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quinta-feira, 31 de julho, 2025
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Fed e BC decidem juros nesta quarta sob sombra de tarifaço de Trump

As autoridades monetárias dos Estados Unidos e do Brasil anunciam nesta quarta-feira (30) suas decisões sobre as taxas de juros, em um momento de elevada incerteza global diante do “tarifaço” prometido por Donald Trump. O ex-presidente norte-americano, que lidera as pesquisas para a eleição de novembro, anunciou a entrada em vigor de novas tarifas comerciais já nesta sexta-feira (1º), o que pressiona os mercados e os bancos centrais a adotarem posturas mais cautelosas.

No Brasil, a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa Selic em 15%, enquanto o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, deve manter o intervalo atual entre 4,25% e 4,5%. A atenção dos analistas, no entanto, está voltada para os comunicados que serão divulgados após as reuniões do Copom e do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), que podem trazer sinais importantes sobre os próximos passos da política monetária.

Sinais divergentes: corte à vista nos EUA, pausa prolongada no Brasil

Nos Estados Unidos, o mercado aposta que o ciclo de cortes de juros comece em setembro, com uma redução de 0,25 ponto percentual, segundo dados da bolsa de derivativos CME. A previsão é de que a taxa termine o ano entre 3,75% e 4%. A leitura de que a inflação está sob controle e o consumo começa a perder fôlego sustentam essa projeção. No entanto, o pacote tarifário de Trump gera dúvidas sobre os efeitos inflacionários defasados, o que mantém os dirigentes do Fed em alerta.

“O ambiente geopolítico instável e o risco de desancoragem das expectativas exigem uma postura vigilante”, afirma José Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio. Segundo ele, mesmo com sinais de desaceleração, o Fomc tende a manter o tom conservador nos discursos.

A análise da consultoria LCA aponta que, embora o impacto direto das tarifas sobre a inflação deva ser modesto, o aumento da incerteza pode afetar a confiança privada e limitar o apetite ao risco.

Copom deve manter Selic, mas incerteza externa e fiscal preocupam

No Brasil, a manutenção da Selic em 15% é amplamente esperada, sobretudo após o Banco Central ter sinalizado, em sua última decisão, que pretende manter uma política monetária “significativamente contracionista por período bastante prolongado”. Segundo o boletim Focus mais recente, a próxima redução só deve ocorrer em março de 2026, com a Selic caindo para 14,5%.

O principal fator de risco, contudo, é o impacto das novas tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros. Embora o efeito direto sobre o PIB deva ser moderado, especialistas alertam para os riscos de redução da confiança do setor privado, menor investimento e potencial retração do consumo.

Medidas compensatórias anunciadas pelo governo federal, como crédito subsidiado, podem mitigar parte dos impactos, mas a possibilidade de uma escalada nas tensões comerciais com os EUA é vista como uma ameaça mais grave.

“Juros altos com inflação cadente geram um descompasso perigoso. Para quem está no varejo ou na indústria, esse custo elevado se traduz em menos expansão, mais inadimplência e decisões estratégicas sendo adiadas”, alerta André Matos, CEO da MA7 Negócios.

João Kepler, CEO da Equity Group, reforça que o mercado aguarda mais do que apenas a decisão: “A Selic elevada por tanto tempo destrói valor, encarece o funding e tira o fôlego de quem está escalando. Mais do que a taxa, o empreendedor quer previsibilidade”, afirma.

Cautela e vigilância

Com inflação controlada mas cenário externo imprevisível, os comunicados de Fed e BC devem refletir cautela. A estratégia “alto por mais tempo” continua sendo o fio condutor da política monetária nos dois países — enquanto o mundo observa o desenrolar da política comercial dos EUA e seus reflexos na economia global.

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