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sábado, 16 de agosto, 2025
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Governo Lula intensifica diálogo com agronegócio após tarifaço de Trump

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou as articulações para estreitar laços com o agronegócio brasileiro, setor historicamente alinhado à direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A estratégia é impulsionada por dois fatores: a queda recente no preço dos alimentos e o tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros.

Segundo fontes do Palácio do Planalto ouvidas pelo R7, o momento é de “investir” na aproximação com o agro, aproveitando fissuras internas no setor. Isso porque Trump justificou a medida, em parte, alegando perseguição contra Bolsonaro — hoje réu no STF, inelegível até 2030 e em prisão domiciliar. A correlação feita pelo republicano teria gerado desconforto entre produtores, divididos entre a fidelidade ao ex-presidente e a preocupação com os prejuízos econômicos.

As negociações para reduzir os impactos da tarifa são lideradas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que se reuniu nesta semana com representantes de áreas diretamente afetadas, como carne bovina, café, pescados e mel.

Setores pressionados

Os Estados Unidos são um dos principais mercados para o agronegócio brasileiro. Em 2024, o país importou quase US$ 2 bilhões em café do Brasil, cerca de 16,7% das exportações totais do produto. O mercado americano também absorveu 532 mil toneladas de carne bovina, gerando US$ 1,6 bilhão em receitas. Frutas, máquinas agrícolas, móveis, têxteis e calçados também estão entre os setores atingidos pela alíquota de 50%.

A Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) já projeta queda de até 5% na receita líquida de empresas como a Minerva. No setor calçadista, a taxação integral ameaça agravar uma crise já marcada pela forte concorrência internacional.

Indústria armamentista também pressiona

Além do agro, outros segmentos próximos a Bolsonaro também se viram obrigados a negociar com o governo Lula. A fabricante de armas Taurus, que exporta 85% de sua produção para os EUA, classificou a medida como uma “tragédia” e se reuniu com Alckmin para discutir alternativas.

Preço dos alimentos e popularidade de Lula

Internamente, o governo também acompanha a evolução do preço dos alimentos, fator decisivo na avaliação popular do presidente. Segundo o IBGE, julho registrou a segunda queda consecutiva nos preços de alimentos e bebidas, com retração de 0,27% no IPCA.

Ainda assim, o tema preocupa o Planalto: no início do ano, o custo elevado da comida derrubou os índices de aprovação de Lula ao menor nível de seus três mandatos. Em resposta ao tarifaço, o petista afirmou, em Pernambuco, que Trump “mente” ao dizer que o Brasil é um mau parceiro comercial.

Com o cenário externo pressionando setores estratégicos e a inflação dos alimentos em queda, o governo aposta no momento como oportunidade para redesenhar sua relação com o agronegócio e reduzir resistências políticas históricas.

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