Greve dos motoristas entra no segundo dia e ônibus seguem parados em Campo Grande

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Motoristas dizem que só retomam o trabalho após pagamento integral dos salários (Foto: Reprodução/Cliquenewsms)

Sindicato condiciona fim da paralisação ao pagamento dos salários; impasse envolve prefeitura e consórcio

A greve dos motoristas de ônibus de Campo Grande continua nesta terça-feira (16) e mantém 100% da frota fora de circulação. A decisão foi tomada em reunião realizada no fim da tarde desta segunda-feira (15) pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano (STTCU), que condiciona o fim da paralisação ao pagamento integral dos salários da categoria.

Segundo o presidente do sindicato, Demétrio Freitas, os trabalhadores decidiram manter a greve por tempo indeterminado após o pagamento de apenas parte dos vencimentos. “A paralisação continua até que o salário esteja na conta”, afirmou. Portões de terminais e garagens permaneceram fechados ao longo do dia, agravando os transtornos para usuários do transporte coletivo na capital.

A paralisação ocorre mesmo após decisão da Justiça do Trabalho que autorizou a greve, mas determinou a manutenção de pelo menos 70% dos ônibus em circulação, por se tratar de um serviço essencial. A liminar, assinada pelo desembargador César Palumbo Fernandes, estabelece que apenas 30% da categoria poderia aderir ao movimento. Apesar disso, a decisão judicial não vem sendo cumprida.

Prefeitura diz que não há atraso

A Prefeitura de Campo Grande, por meio da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg), afirma que não há inadimplência por parte do município. De acordo com o diretor-executivo da agência, Otávio Figueroa, todos os repasses ao Consórcio Guaicurus foram feitos em dia e, em alguns casos, antecipados.

Segundo a Agereg, somente em 2025, mais de R$ 35 milhões foram transferidos ao consórcio, entre subvenções e valores de vale-transporte. Na semana passada, a prefeitura também teria antecipado cerca de R$ 3 milhões com o objetivo de evitar a paralisação e garantir o pagamento dos salários dos motoristas.

A agência afirma ainda que o consórcio acumula descumprimentos contratuais, como frota envelhecida — com 197 ônibus acima da idade média permitida — e ausência de seguro obrigatório. Por esses motivos, já foram aplicadas multas que somam R$ 12 milhões, além de novas penalidades em análise. “O serviço está abaixo da qualidade. Por isso a agência reguladora está multando”, disse Figueroa.

Consórcio aponta dívida de R$ 39 milhões

Já o Consórcio Guaicurus atribui a paralisação a uma dívida acumulada desde 2022, estimada em R$ 39 milhões. Segundo o diretor-presidente do consórcio, Themis de Oliveira, o valor é resultado do não pagamento da diferença entre a tarifa pública, paga pelo usuário, e a tarifa técnica, que seria o custo real do serviço.

Atualmente, de acordo com ele, a tarifa técnica é de R$ 6,57, enquanto o passageiro paga R$ 4,95. “Essa diferença nunca foi paga pelo município”, afirmou. O consórcio também aponta valores em aberto referentes ao transporte de estudantes da rede estadual, que somariam mais R$ 4,8 milhões.

Impacto nos salários e na população

Segundo Themis, a falta de recursos inviabilizou o pagamento integral da folha salarial. Apenas metade dos salários teria sido quitada na semana passada, e há risco de atraso no 13º salário e no adiantamento mensal.

A greve já prejudica cerca de 110 mil usuários do transporte coletivo em Campo Grande. Uma reunião de conciliação entre sindicato, consórcio e prefeitura está prevista para a tarde desta terça-feira (16). Enquanto não há acordo, a capital segue sem ônibus nas ruas.