Governo acusa “traição” na condução do PL Antifacção; presidente da Casa diz que Executivo “escolheu o caminho errado”
A condução do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do PL Antifacção provocou um dos maiores abalos recentes na relação entre o Palácio do Planalto e a Câmara dos Deputados. O governo Lula (PT) sofreu uma derrota expressiva com o placar de 370 votos a 110, resultado que ampliou a desconfiança do Executivo em relação ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Logo após a votação, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), admitiu publicamente que o episódio instalou uma “crise de confiança” entre o governo e a presidência da Câmara. Para aliados do presidente Lula, Motta teria atuado para isolar o governo ao entregar a relatoria a Derrite, secretário de Segurança do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) — decisão vista por parlamentares petistas como “traição” e “provocação”.
Motta rebate críticas
Diante da pressão, Hugo Motta reagiu e culpou o próprio governo pela derrota. Em publicação no X (antigo Twitter), escreveu que o Executivo “optou pelo caminho errado ao não compor essa corrente de união para combater a criminalidade”.
Motta ocupa a presidência da Câmara desde fevereiro, mas, apesar do curto período, já acumulou desgastes com o governo federal.
Histórico de atritos
O episódio do IOF, em julho, é apontado como uma das primeiras fissuras. Na ocasião, Motta pautou e aprovou em plenário — em sessão esvaziada — o projeto que derrubou decreto do governo que reajustaria alíquotas do imposto. O presidente da Câmara afirmou que a decisão teve “construção suprapartidária” e forte maioria, mas a movimentação irritou o Palácio do Planalto.
A crise se aprofundou quando o governo enviou uma Medida Provisória com medidas fiscais alternativas. Após críticas do setor produtivo, Motta recuou do apoio inicial e disse que não havia compromisso para aprovação, o que levou a MP a caducar.
Outro ponto de tensão é a atuação do presidente da Câmara em temas sensíveis ao governo. Entre eles, a pauta de urgência da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro e a decisão de levar ao plenário a votação da cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), já decidida pelo Supremo Tribunal Federal.
Clima de desconfiança
Entre integrantes do governo, cresce a percepção de que Motta age politicamente para desgastar a articulação do Planalto. Já aliados do presidente da Câmara afirmam que ele tem buscado “independência” e força institucional para se firmar como liderança nacional.
Com o PL Antifacção, porém, a relação entre Câmara e Governo Lula chega a um de seus momentos mais delicados — e sem previsão de distensionamento no curto prazo.











