IX Pantalhaç@s transforma Campo Grande em um grande picadeiro de afeto, riso e resistência

13
Foto: Divulgação

A 9ª edição da Pantalhaç@s – Mostra de Palhaç@s do Pantanal encerrou suas atividades deixando Campo Grande mais colorida, pulsante e desperta. Entre 4 e 10 de dezembro, durante sete dias, teatros, escolas, praças e espaços culturais foram ocupados por espetáculos de palhaçaria vindos de várias regiões do Brasil, além de atrações internacionais, reafirmando o festival como um dos mais importantes encontros da linguagem no Centro-Oeste.

O que se viu foi um público assíduo, presente do início ao fim, comparecendo em massa aos teatros e enchendo as apresentações de rua com entusiasmo e curiosidade. Muitos espetáculos lotaram e cada sessão se transformou em um evento único, cheio de energia compartilhada entre artistas e plateia.

Uma semana de espetáculos inesquecíveis

A abertura, na quinta-feira (4), com “Noites de Circo”, da Família Morales (RJ), deu o tom do que seria a semana: uma explosão de virtuosidade, tradição circense e um encontro caloroso entre artistas e cidade. Na sexta (5), o “Xou do Xac”, de Gabriel Castro (MG), levou ao Teatro Prosa um espetáculo provocador e divertido, enraizado na palhaçaria queer, que arrebatou o público com humor e crítica.

O sábado (6) marcou uma das tardes mais festivas da edição, com “Apalhassadamuzikada… Uma Sinphonia Engrassada!”, da Turma do Biribinha (AL), um mergulho generoso na comicidade popular e na poesia do circo-teatro. À noite, “Batalha”, de Dagmar Bedê (MG), ocupou a Orla Morena com um espetáculo arrebatador — visceral, político e delicado — que deixou a plateia entre lágrimas e gargalhadas.

No domingo (7), a Palhasseata transformou o bairro em festa pública guiada por Thiago Sales, com suas paródias irresistíveis e arranjos especialmente preparados para o festival. Música, sopros, ritmos e palhaços em cortejo arrastaram moradores e famílias para o percurso. Após o cortejo, o espetáculo internacional “Se Desconcierta el Concierto”, do Latin Duo (Argentina/Peru), tomou a Orla Morena com improviso, musicalidade e um humor que atravessa fronteiras.

Segunda (8) e terça (9) levaram a palhaçaria para as equipamentos culturais e escola pública — algo fundamental para a Mostra — com apresentações de “TICTAC” (Três Lagoas/MS), “Vendê – Graça na Praça” (Nova Alvorada do Sul/MS), “Fuzarca” (Dourados/MS) e “Saltimbembe Mambembancos” (SP), todas recebidas com entusiasmo por crianças e jovens que, muitas vezes, nunca haviam visto palhaços tão de perto.

IX Pantalhaç@s transforma Campo Grande em um grande picadeiro de afeto, riso e resistência
Foto: Divulgação

À noite de terça (9), o Teatro Aracy Balabanian recebeu “La Trattoria”, do Los Circo Los (SP), um espetáculo que conquistou o público com comicidade física, caos organizado e um humor universal capaz de encantar qualquer plateia.

As oficinas — que nesta edição incluíram a construção do palhaço, técnicas de malabarismo, riso disruptivo e construção de objetos — foram muito procuradas e criaram momentos de troca intensa entre artistas iniciantes, estudantes e profissionais de longa trajetória. Um encerramento à altura da Mostra

“Desajustada”, de Vanderleia Will, fechou a edição com força e sensibilidade. O teatro lotado vibrou com um espetáculo que misturou poesia, denúncia e comicidade física para falar sobre as opressões que atravessam o corpo e a vida das mulheres. Assim como toda a programação, o encerramento reafirmou que a palhaçaria é um campo vasto, múltiplo e profundamente político.

Mauro Guimarães, do Circo do Mato, sintetiza o sentimento da equipe. “Eu acho que ela foi uma edição bem diversa. A gente sai com muitos apontamentos para a décima edição, porque também criamos expectativas, nossas e do público. Durante esses anos, experimentamos vários formatos e vamos entendendo o que fica de cada um. A diversidade sempre esteve presente na Mostra, de forma natural, e queremos manter isso vivo, sem imposição. Também precisamos olhar para o etarismo, artistas e técnicos estão envelhecendo e precisam ser incluídos, acolhidos e respeitados. Em contrapartida, queremos estar atentos à juventude que chega. É esse encontro de gerações que mantém a palhaçaria pulsando”.

Mauro também enfatiza a importância de ocupar espaços culturais fora do centro. “Não adianta só construir teatros na periferia, eles precisam ter programação. E o público sempre responde bem. Às vezes dizem que ‘eles não querem’, mas muitas vezes é que não conhecem. Quando a arte chega, a resposta é linda”.

O professor de filosofia José Manfroi destaca o caráter reflexivo da Mostra. “A Pantalhaç@s trouxe muitas inovações e nos fez pensar sobre realidades sociais, políticas e culturais. Por trás do palhaço sempre há reflexão. Foi uma semana muito proveitosa. Acho importantíssimo levar esse tipo de trabalho às escolas, os jovens precisam ter mais acesso”.

Para a estudante Anny Rocha, de 15 anos, a experiência foi transformadora. “Eu nunca tinha visto um espetáculo sem falas. Me cativou muito. O La Trattoria foi engraçado demais, o último, Desajustada, teve crítica social. Gostei muito. Acho que tem que ter mais atividades como essa, com certeza”.

Entre risos, encontros, questionamentos e abraços, a IX Pantalhaç@s se despede deixando rastros de cor nas escolas, nas praças, nos teatros e na memória do público. Foi uma semana que lembrou — com delicadeza e contundência — que o riso é ferramenta de encontro, resistência e transformação.

Esta edição contou com investimento da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo Governo do Estado, através da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.