No dia 22 de agosto de 1965, estreava na TV Record o programa “Jovem Guarda”, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O espaço não apenas lançou um movimento musical, mas marcou uma geração inteira de jovens brasileiros que, pela primeira vez, viam sua voz, estilo e comportamento refletidos na televisão e na música.
Agora, 60 anos depois, a Som Livre celebra o marco com o lançamento de uma série de seis álbuns remasterizados de Erasmo Carlos, um dos grandes nomes da Jovem Guarda. Sob curadoria de Marcelo Froes e com engenharia de som de João Antonio Franz, os trabalhos resgatam o frescor do “Tremendão” em títulos que chegam às plataformas digitais: “A Pescaria”, “Você Me Acende”, “Erasmo Carlos 1967”, “O Tremendão”, “Erasmo 1968” e “Erasmo Carlos e os Tremendões”.
“A Jovem Guarda, mais que um movimento, foi um momento da música brasileira em que o jovem começou a ficar fissurado em comprar discos e consumir seu ídolo através de filmes, programas de auditório, revistas etc. Felizmente localizei as sessões dos discos lançados nos anos 60 e deu certo lançarmos agora”, diz Froes. A iniciativa reforça a importância do iê-iê-iê, versão brasileira do rock com letras românticas e cheias de irreverência , que transformou em hinos canções como “Festa de Arromba” e “Gatinha Manhosa”, eternizadas por Erasmo.
Além dos lançamentos de Erasmo pela Som Livre, a celebração dos 60 anos da Jovem Guarda contempla outras ações em parceria com a Sony Music. Entre elas, playlists especiais dedicadas ao repertório de Roberto Carlos, como a “Roberto Carlos – Jovem Guarda”, que reúne canções remasterizadas do artista, além de valorizar clássicos eternizados na voz de Wanderléa. A campanha ainda conta com ativações digitais e iniciativas para aproximar o legado do movimento de novas gerações, mostrando que o impacto da Jovem Guarda segue atual até hoje.
A campanha também conta com ativações digitais e iniciativas para aproximar o legado do movimento de outras gerações, um impacto que se mantém tão atual que até artistas da MPB – como Arnaldo Antunes – destacam a relevância da Jovem Guarda e de seu “Gigante Gentil”, Erasmo Carlos. Confira, na íntegra, a carta de Arnaldo abaixo:
“A Jovem Guarda povoou a minha infância, assim como a Tropicália povoou minha adolescência (a Bossa Nova só me atingiu por volta da maioridade, assim como grande parte do que veio antes). E tudo isso se misturou na minha paixão pelas canções, que se desdobrava em atitude de vida, com a obra de Erasmo e Roberto preenchendo várias fases dela.
Mas a Jovem Guarda foi o primeiro movimento que me alcançou, inaugurando a modernidade urbana que explodia os meios e gostos mais convencionais, através de várias plataformas. Pela rádio, pelos compactos simples e duplos na vitrolinha, pela TV (o programa ‘Jovem Guarda’, da TV Record), pelo cinema (Em ‘Ritmo de Aventura’, ‘O Diamante Cor-de-Rosa’), pelos álbuns de fotos recortadas das revistas, pelos ícones de comportamento (os gestos, as gírias — “barra limpa”, “papo firme”, “pra frente”, “mora”) pela moda (as calças boca de sino, os casacos de couro, as minissaias, os colares e anéis) e objetos (o chaveiro de calhambeque, os bonecos da Estrela). Essa foi minha primeira porta para o universo transgressor do rock’n roll, com o que ele trazia de potência, liberdade, vitalidade. E o Tremendão foi o mais rock’n’roll de todos, com seu canto rasgado e visceral tão adequado ao timbre ruidoso das guitarras, dos hammonds e farfisas.
Ouvindo hoje, ainda impressiona como eram bem produzidos e gravados os discos dessa época, com uma sonoridade que se mantém atual, embalando tanto as baladas românticas (cuja doçura a voz de Erasmo também alcançava, com a naturalidade de um canto quase falado, ao modo de João Gilberto) como os sucessos mais pesados e dançantes.
Em 2009 lancei o álbum Iê-Iê-Iê, que de alguma forma homenageava a linguagem simples e direta do movimento que Roberto, Erasmo e Wanderléa, entre outros, inauguraram nos anos 60. Nesse mesmo ano, Erasmo lançou seu álbum Rock’n’Roll. Na versão ao vivo de Iê-Iê-Iê, registrada no Ao Vivo Lá Em Casa, tive a alegria de contar com a participação dele cantando comigo. Aí viramos amigos e parceiros.
O relançamento dos álbuns de Erasmo dessa fase nos dá uma noção precisa do quanto sua produção inaugural já trazia o brilho da imensa contribuição de toda sua obra para a nossa música popular”.
*Por Rádio Rock