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sábado, 25 de outubro, 2025
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Justiça climática: estudo defende taxação de bilionários e grandes empresas

Recursos seriam usados em energias renováveis, reflorestamento e adaptação a mudanças climáticas

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) propõe a criação de um imposto sobre os super-ricos e a implementação de um imposto corporativo mínimo global como forma de financiar o pagamento de dívidas climáticas, com foco em países de baixa renda e populações vulneráveis.

O estudo, intitulado Operacionalizando a justiça climática: uma proposta para quantificar e reparar dívidas climáticas, foi elaborado pelo pesquisador Rodrigo Fracalossi. Ele utiliza a abordagem de igualdade per capita (EPC), que mede quanto cada país ultrapassou sua “cota justa” de emissões desde 1990.

“Essa abordagem busca traduzir em números a noção de responsabilização histórica por emissões. Ou seja, é uma forma de operacionalizar a norma da justiça climática, mostrando quem usou mais do que a sua parte justa do espaço atmosférico”, afirma Fracalossi.

Segundo o estudo, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, o mundo poderia emitir no máximo 2,79 trilhões de toneladas de CO₂. Até 1989, já haviam sido emitidas 1,43 trilhão de toneladas, deixando um orçamento global de 1,36 trilhão de toneladas de CO₂ a partir de 1990.

Dívidas climáticas de países

De acordo com os cálculos, os Estados Unidos lideram a lista de países com maior dívida climática, com cerca de US$ 47,9 trilhões — equivalente a 326% do orçamento de carbono que lhes caberia. O Brasil, considerando emissões por desmatamento, já teria consumido 168% de seu limite.

Propostas de financiamento

O estudo sugere duas medidas principais para arrecadar recursos e financiar a reparação das dívidas climáticas:

  • Imposto anual de 2% sobre a fortuna de bilionários e milionários, que poderia gerar até US$ 390 bilhões por ano;
  • Imposto corporativo mínimo global de 15% sobre grandes empresas multinacionais, conforme diretrizes da OCDE e do G20, com potencial de arrecadar US$ 192 bilhões anuais.

“A transição climática precisa ser financiada de forma justa, e isso implica cobrar mais de quem mais se beneficiou e continua se beneficiando de economias baseadas em carbono”, afirma Fracalossi.

Os recursos poderiam ser aplicados em projetos de mitigação e adaptação climática, como expansão de energias renováveis, reflorestamento, infraestrutura resiliente e diversificação agrícola.

O pesquisador também destaca que mecanismos de mercado, como créditos de carbono, são complementares, mas não substituem a ação do Estado.

“Nem o combate às mudanças climáticas, e muito menos a justiça climática, virá apenas de mecanismos de mercado. Eles podem e devem ser usados, mas não vão solucionar o problema sem ação de governo no sentido da redistribuição de recursos”, conclui Fracalossi.

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