Entre as serras, rios e o céu profundo de Bonito, o cinema sul-americano pulsa em todas as cores e formas possíveis durante o Bonito CineSur – um festival que não apenas celebra a sétima arte, mas que se consolida como ponto de encontro entre culturas, histórias e olhares de todo um continente.
É nesse cenário que a cineasta sul-mato-grossense e campo-grandense Ligia Tristão Prieto brilha com um filme selecionado, marcando presença ao lado de nomes de peso do cinema mundial. A participação de Ligia vai além da representatividade feminina no cinema, ela carrega consigo a essência do nosso Estado, as raízes culturais e o olhar sensível de quem transforma vivências em narrativas potentes.
A presença de mulheres como diretoras e roteiristas em festivais como este é um passo fundamental para o fortalecimento de novas perspectivas no audiovisual. Durante décadas, o cinema foi majoritariamente narrado por olhares masculinos, o que reduziu a diversidade de histórias contadas e a forma como elas são representadas.
Quando mulheres estão atrás das câmeras, surgem narrativas mais plurais, afetivas e conectadas com a realidade de quem as vive. Ligia Tristão Prieto é um exemplo disso, abrindo caminhos para que outras cineastas do Centro-Oeste e de todo o país encontrem espaço para mostrar sua arte.
Outro destaque que coloca Mato Grosso do Sul em evidência é o curta-metragem “Eleonora”, que está competindo na mostra oficial do festival. Dirigido e roteirizado de forma sensível, o filme mergulha em uma narrativa que partilha a luta pela liberdade de amar protagonizado por Ana Lucia Serrou, retratando desafios enfrentados a partir do etarismo e da misoginia vivenciada por uma mulher livre de 60+, no Pantanal do MS.
Eleonora representa um respiro poético no festival, reforçando a força dos coletivos artísticos que nascem longe dos grandes centros, mas que trazem um cinema potente, autoral e conectado às raízes culturais do nosso Estado. No elenco do curta estão os atores Tero Queiroz, Edilton Ramos, Amarilis Irani e Flávia Alarcon.
E a equipe composta pela 1ª assistente de direção, Lethicia Rodrigues, a diretora de fotografia Jéssica Santos, o operador de câmera, Fernando Averaldo, o diretor de som, Leonardo de Castro, a figurinista Dayane Bento, a produtora geral e still, Gabriella Thais, a produtora de arte, Erika Oelke, o produtor de elenco, Leonardo Medeiros e a maquiadora Isabela Lopes.
O Grupo Casa, responsável por Eleonora, tem sido um dos coletivos mais importantes na cena artística de Mato Grosso do Sul, cruzando fronteiras entre teatro, cinema e performance. Ligia, que também contribui com seu olhar como roteirista e diretora, participa dessa construção coletiva, trazendo sua sensibilidade única para a criação de narrativas que resgatam memórias e vivências do nosso território. Essa união de vozes e talentos reafirma a potência cultural do Estado, mostrando que o cinema sul-mato-grossense tem voz própria e histórias que merecem ecoar pelo mundo.
Entre os destaques do festival, o trabalho da cineasta Valentina Qaszulxkef e sua equipe chama atenção ao mergulhar em uma das técnicas mais encantadoras e complexas do audiovisual: o stop motion. O curta-metragem “Amor no tempo de tudo o que chamamos de presente” já percorreu festivais internacionais e agora encontra no CineSur um espaço de diálogo com outras vozes criativas.
“O stop motion nos permite retornar ao tangível em um mundo dominado pelo digital”, comenta Valentina, cuja produtora, a Serval Films, também desenvolve videoclipes para bandas do mercado norte-americano, unindo animação e música independente em obras que carregam uma identidade artesanal única.
O encontro entre Ligia Tristão Prieto, o Grupo Casa e cineastas como Valentina traduz a essência do festival: um convite para ver o mundo através de diferentes janelas, cada uma revelando uma história que merece ser contada, e ainda um encontro entre diretoras mulheres que renovam a força do fazer um cinema sensível e revolucionário.