Lula retorna ao Brasil e inicia ofensiva para aprovar Jorge Messias no STF

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Lula indicou Messias para o STF na última quinta (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Indicação enfrenta resistências no Senado após pressão por Rodrigo Pacheco; governo vê crise ampliada, mas sem risco real de derrota

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Brasília nesta terça-feira (25) com um objetivo central: articular a aprovação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF). O petista anunciou, na última quinta-feira (20), a indicação do atual advogado-geral da União para ocupar a cadeira deixada por Luís Roberto Barroso, que se aposentou antecipadamente.

Lula retorna ao país após participar da reunião do G20 na África do Sul e realizar uma visita de Estado a Moçambique.

Resistência no Senado

A indicação de Messias enfrenta forte resistência entre senadores, que defendiam o nome do ex-presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Antes mesmo de ser oficializado como indicado, o atual AGU já não era o preferido do Senado. O anúncio, previsto inicialmente para outubro, foi adiado por Lula para depois da COP30 — decisão influenciada pela pressão de aliados de Pacheco, entre eles o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Para assumir o cargo no STF, Messias precisa ser sabatinado e aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, receber o apoio de ao menos 41 senadores no plenário.

Troca de notas expõe mal-estar

A tensão entre Messias e Alcolumbre ganhou tom público nesta segunda-feira (24). Em nota, o AGU demonstrou “admiração e apreço” pelo senador. Alcolumbre respondeu em outro comunicado, dizendo que “cada Poder atua dentro de suas atribuições” e que o Senado fará a análise “no momento oportuno”, sem mencionar datas.

Nos bastidores, a mensagem foi interpretada como um recado claro: o ritmo da sabatina dependerá exclusivamente de Alcolumbre, responsável por decidir quando a indicação será pautada na CCJ.

Cálculos políticos

Lula trabalha para que Rodrigo Pacheco concorra ao governo de Minas Gerais em 2026, enfrentando o atual governador Romeu Zema (Novo). O presidente vê Messias — que já foi assessor de Dilma Rousseff e é considerado próximo ao PT — como nome estratégico para o STF, inclusive por ser evangélico, grupo no qual Lula tenta avançar eleitoralmente.

Atualmente, o único ministro evangélico no Supremo é André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro (PL). Messias frequenta a Igreja Batista.

A oposição, porém, já sinalizou que votará contra. O líder Rogério Marinho (PL-RN) afirmou que a bancada resistirá à indicação por considerar Messias alinhado ao governo petista.

Governo minimiza risco de derrota

Apesar das turbulências, o Palácio do Planalto afirma não ver risco real de rejeição. Desde o fim do século XIX, o Senado rejeitou apenas cinco indicações ao STF, e a avaliação interna é de que Messias deve obter maioria, ainda que com margem apertada.

Interlocutores do governo admitem que a crise se ampliou mais do que o previsto, mas avaliam que a situação não ameaça a aprovação final.

Enquanto isso, Lula deve intensificar conversas com líderes partidários nas próximas horas, numa ofensiva para assegurar votos e encurtar resistências no Senado.