Em 2025, Campo Grande já contabiliza 19 mortes no trânsito. Dessas, cinco ocorreram apenas no mês de fevereiro — o mais violento até agora —, sendo quatro envolvendo motociclistas e um pedestre como vítimas fatais. O cenário é preocupante, principalmente quando o serviço de saúde está operando no limite da capacidade, em razão dos casos de síndromes respiratórias e da falta de leitos.
E, ao se observar as estatísticas, nota-se que os óbitos registrados infelizmente poderiam ter sido evitados, considerando o respeito às leis de trânsito, a consciência coletiva e a maior prudência na condução dos veículos. Diante deste cenário, a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) promoveu mais uma ação educativa dentro da campanha Maio Amarelo, que este ano tem como lema “Desacelere. Seu bem maior é a vida”, na manhã desta sexta-feira (16).

A mobilização contou com a participação de motoristas da SESAU, palestras com o DETRAN-MS, demonstrações práticas e relatos que colocam luz sobre um problema que afeta diretamente a saúde pública e o cotidiano de centenas de famílias campo-grandenses.
Para o secretário-adjunto da SESAU, Aldecir Dutra, que nesta manhã representou a secretária municipal de Saúde, Rosana Leite, os acidentes não são apenas estatísticas frias. Eles refletem um comportamento social que precisa ser transformado. “Campo Grande tem um dos maiores índices de veículos por habitante do país. Sabemos que há casos em que famílias possuem até três carros por residência. Além do trânsito já sobrecarregado, falta empatia no trânsito, sobra egoísmo e pressa. E tudo isso é combustível para que tenhamos registros de tragédias no nosso trânsito”, pontuou. “Temos que desacelerar — precisamos fazer uma reflexão sobre tudo isso, seja por nós, pelos nossos filhos, pelas pessoas que dividem as ruas com a gente diariamente”.

A médica Isabela Mendonça, coordenadora do SAMU Campo Grande, destacou a relevância e urgência do movimento. “O Maio Amarelo é um movimento que acontece em nível mundial. Aqui no Brasil, ele é realizado desde 2011, com o objetivo de promover um trabalho mais focado no trânsito durante o mês de maio, para preservar vidas. Campo Grande é uma capital de médio porte, porém apresenta um alto índice de acidentes de trânsito com vítimas, o que pressiona diariamente os serviços de urgência e emergência da cidade”.

E ainda destacou que “as unidades de saúde 24h ou as unidades hospitalares que recebem essas vítimas operam no limite da capacidade, considerando que, por muitas vezes, não há vagas. Por isso, reforçamos à população a importância da prudência ao volante e do respeito às leis de trânsito. Cada atitude consciente salva-vidas e desafoga o sistema de saúde. Não estamos falando de números, mas de pessoas, de famílias dilaceradas por negligência e imprudência no trânsito. O SAMU e a SESAU seguem atuando com responsabilidade, mas é essencial o apoio da sociedade. Por isso, pedimos: vamos juntos desacelerar e preservar vidas”.

Durante o evento, servidores vivenciaram, na prática, simulações que mostram os efeitos da embriaguez ao volante. Josemara Viana, condutora da SESAU há quatro meses, participou e relatou a experiência com os óculos de simulação de embriaguez. “É assustador. A visão fica completamente turva, a gente perde a noção do que está fazendo. Passamos a entender, de verdade, o perigo que é alguém dirigir embriagado. Por isso, precisamos redobrar o nosso cuidado quando estamos à frente da direção e, claro, não beber”.

Apoio à Campanha Maio Amarelo
A campanha Maio Amarelo não surgiu à toa dentro da SESAU. Segundo Esthefani Uchoa, do setor de Vigilância em Saúde do Trabalhador da Gersau/SESAU, muitos dos acidentes registrados estão relacionados ao trajeto entre casa e trabalho, o que acaba integrando também os indicadores de acidentes de trabalho.
“Nós decidimos promover ações específicas de trânsito porque esses casos aparecem de forma significativa entre os nossos indicadores. Prevenir acidentes também é cuidar da saúde do trabalhador”, destaca a enfermeira.

Pedro Rogério Zanetti, gestor de Educação e Fiscalização de Trânsito do DETRAN-MS, lembra que o trabalho de conscientização já acontece há mais de uma década no Estado e que a parceria com órgãos públicos, como a SESAU, é fundamental. “Todos aqui são motoristas ou passageiros. E o que importa não é só chegar ao destino, mas chegar bem. O trânsito precisa ser mais humano e seguro para todos”.

Além das palestras, o calendário do Maio Amarelo prevê ainda outras ações educativas ao longo do mês, como a Caminhada pela Paz no Trânsito, organizada pelos Correios em parceria com diversas instituições públicas e privadas.
Veja o Cronograma:
25/05/2025 – 08h – Domingo – Caminhada dos Correios – Parque dos Poderes. Em frente ao Centro de Multiuso, próximo ao quartel do Corpo de Bombeiros Militar.
27/05/2025 – 14h – Terça-feira – Encerramento Nacional do Maio Amarelo. Local: Bioparque Pantanal.
Um alerta que salva-vidas
O tema da campanha de 2025 – “Desacelere, seu bem maior é a vida” – tem sido difundido em ações educativas, palestras, caminhadas e eventos ao longo do mês. Além das fatalidades, o número de feridos com sequelas permanentes também é considerável. De acordo com o projeto Vida no Trânsito da SESAU, os motociclistas são os que mais ocupam leitos hospitalares da rede pública, especialmente devido a traumas causados por sinistros graves. Lucimara Faria, gerente técnica do Serviço de Prevenção de Violências e coordenadora do projeto Vida no Trânsito, reforça o papel das estratégias intersetoriais na prevenção.

“A maioria dos motoristas e, principalmente, os motociclistas são os que mais ocupam os leitos hospitalares. Muitos não morrem, mas ficam com sequelas graves. É por isso que dizemos: desacelere. É preciso mudar o comportamento para preservar vidas”, destaca.
O Projeto Vida no Trânsito, do Ministério da Saúde, coordenado pela Vigilância Epidemiológica da SESAU, atua de forma intersetorial e reúne mais de 50 instituições parceiras por meio do Grupo de Gabinete Integrado do Trânsito (GGIT) e do Grupo de Análise de Acidentes Fatais (GAAT), que se reúne semanalmente para mapear sinistros, identificar fatores de risco e propor soluções que reduzam a morbimortalidade no trânsito.

Assim, o Maio Amarelo é um convite à reflexão. Em um trânsito cada vez mais acelerado, o maior desafio é desacelerar por consciência e empatia. Afinal, não são apenas números. São pais, mães, filhos e colegas de trabalho que deixam de voltar para casa.