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sexta-feira, 21 de novembro, 2025
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Memória viva da ferrovia é tema de encontro com ex-maquinista em Campo Grande

Projeto “Café com a Vizinhança” traz à tona lembranças, afetos e desafios da história ferroviária local

A Casa Amarela promove no próximo domingo (23), às 8h, o segundo encontro do projeto “Café com a Vizinhança: Histórias do Tombamento – uma criação coletiva”, que busca compartilhar relatos sobre o Complexo Cultural Ferroviário de Campo Grande. A atividade é gratuita e acontece na Rua dos Ferroviários, nº 118, no centro da Capital.

O convidado desta edição é Nelson de Araújo, ex-maquinista cuja trajetória se entrelaça com a própria história da ferrovia em Campo Grande. “Fui maquinista de 1984 a 2009, mas minha ligação com o Complexo Cultural Ferroviário começou muito antes”, conta. Ele mudou-se para a Rua dos Ferroviários em 1964, quando tinha apenas quatro anos. “Cresci ouvindo os trens manobrando, buzinando, partindo e chegando. Faz parte de quem eu sou”.

Filho e neto de ferroviários, Nelson recorda com carinho do período em que a ferrovia representava orgulho e pertencimento para os trabalhadores. Entre as lembranças mais vivas está o ritual de levar o almoço do pai na rotunda, onde ele atuava como truqueiro e depois escriturário, e os dias em que recebia o pagamento diretamente no “trem pagador”. “Eu adorava pegar aquele envelope cheio de dinheiro, tudo em espécie”, relembra.

Durante a conversa deste domingo, Nelson pretende abordar aspectos históricos, culturais e arquitetônicos do Complexo Ferroviário. “Vamos falar sobre a ferrovia e seu complexo cultural — sua importância, história e valores arquitetônicos. Depois, abriremos para perguntas e curiosidades”, explica.

No entanto, o encontro também deve revisitar momentos difíceis. Nelson lembra o impacto da privatização da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em 1996. “Começaram o sucateamento da RFFSA. Muitos trabalhadores foram demitidos, os sonhos se perderam em tristeza, lágrimas e decepções. As empresas privadas só lucraram e não investiam. Decretaram o fim da nossa ferrovia”, lamenta.

A iniciativa integra a programação especial de fim de ano da Casa Amarela, que valoriza memória, arte e convivência comunitária. A proposta é reunir moradores e visitantes em torno de um café, estimulando a preservação das histórias que moldaram a identidade ferroviária da cidade.

“Tudo que se relaciona com a ferrovia, e todos que tentam manter viva essa história, eu sempre estarei pronto para contribuir”, afirma Nelson. “Estamos aqui de passagem, como passaram meu avô, meu pai e meus tios, que também foram ferroviários. Mas precisamos manter, contar e divulgar essa história para as novas gerações”.

Para Tatiana De Conto, idealizadora do projeto e gestora da Casa Amarela ao lado do artista Guido Drummond, encontros como este fortalecem o vínculo da comunidade com seu patrimônio. “Esses relatos preservam a história viva do Complexo Ferroviário, que é patrimônio afetivo da cidade”, destaca.

Todo o material coletado será registrado e disponibilizado nas redes sociais da Casa Amarela, ampliando o acervo do Museu de Arte Urbana (MuAU), que transforma memórias em arte muralista e narrativa.

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