Decisão foi tomada em assembleia no sindicato; atraso no benefício soma cerca de R$ 14 milhões
Os médicos da Santa Casa de Campo Grande decidiram, na noite desta segunda-feira (22), não entrar em greve, mesmo diante do atraso no pagamento do 13º salário. A decisão foi tomada em assembleia realizada no Simmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) e levou em consideração o impacto que a paralisação poderia causar no atendimento à população.
Segundo o presidente do sindicato, Marcelo Santana, a categoria rejeitou a proposta apresentada pela direção do hospital de parcelar o pagamento do benefício entre janeiro, fevereiro e março de 2026. Apesar disso, os médicos optaram por manter os atendimentos. “Decidimos por unanimidade não realizar greve, porque sabemos da importância do nosso trabalho para a saúde pública e para garantir a assistência à população”, afirmou.
De acordo com Santana, o sindicato já iniciou a adoção de medidas judiciais para cobrar o pagamento integral do 13º salário, que soma cerca de R$ 14 milhões. “Vamos tomar medidas firmes para resguardar o direito dos trabalhadores. Estamos agilizando essa deliberação jurídica para garantir o recebimento integral do décimo terceiro”, disse.
A decisão ocorreu após um dia de paralisação parcial no hospital. Pela manhã, funcionários realizaram protesto em frente à Santa Casa, reunindo cerca de mil trabalhadores, que caminharam pelas ruas do entorno com cartazes e palavras de ordem cobrando o pagamento do benefício e criticando a gestão da instituição.
Impactos no atendimento
Em razão da paralisação, a Santa Casa limitou temporariamente as visitas aos pacientes. Cada internado pôde receber apenas um familiar por dia, exclusivamente no período da manhã, às 11h. As visitas à tarde e à noite foram suspensas, e o acesso passou a ocorrer somente pela entrada de vidro no térreo do hospital.
Segundo comunicado da instituição, as visitas permaneceram autorizadas para pacientes internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e nas enfermarias. Já no setor de trauma, a entrada foi direcionada para uma porta específica, sem acesso pelo térreo.
Conforme sindicatos que representam os trabalhadores, cerca de 70% do efetivo seguiu em atividade, enquanto aproximadamente 30% aderiram à greve. O percentual atende ao mínimo exigido por lei para evitar desassistência aos pacientes.
Troca de acusações
A direção da Santa Casa afirma não ter recursos em caixa para quitar o 13º salário e informou que negocia um empréstimo para pagar a dívida. Já o governo do Estado declarou que mantém os repasses financeiros em dia. A Prefeitura de Campo Grande também reafirmou, nesta segunda-feira, que está com todos os repasses regulares e destacou que, desde o início de 2025, vem realizando aportes extras mensais de R$ 1 milhão ao hospital.
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Em nota, o Sinmed-MS afirmou ter sido surpreendido por ofícios enviados pela Santa Casa antes da assembleia, nos quais o hospital sugeriria a greve da categoria. Para o sindicato, a atitude pode caracterizar tentativa de lockout — prática proibida pela Lei de Greve, que consiste na paralisação das atividades por iniciativa do empregador para pressionar trabalhadores ou sindicatos.
“Em mais de 24 anos atuando no ramo sindical, é a primeira vez que vejo uma disposição tão clara do empregador para que o sindicato faça greve. É preciso trazer o Ministério Público do Trabalho para a mesa”, afirmou o advogado do Sinmed, Márcio Almeida.
Ainda segundo o sindicato, foi protocolado pedido no plantão do Judiciário trabalhista para determinar o pagamento imediato do 13º salário, sob pena de responsabilização dos sócios beneméritos da Santa Casa, além da apuração de possíveis indícios de má gestão.




















