Com execução eficaz, os projetos logísticos em andamento poderão transformar Mato Grosso do Sul em um dos principais eixos produtivos e de escoamento do agronegócio brasileiro nos próximos 10 a 20 anos. Para a Famasul, esse é um momento estratégico de reestruturação, que pode gerar impactos duradouros na competitividade do setor, na atração de investimentos e na geração de emprego e renda no campo.
A Federação acompanha com atenção o avanço de obras estruturantes, como a concessão da BR-163 à empresa Motiva. Com contrato de 29 anos e previsão de R$ 16,6 bilhões em investimentos ao longo dos 847 km de rodovia, o projeto inclui duplicações, faixas adicionais, acostamentos, passarelas, viadutos e áreas de descanso para caminhoneiros. A modernização dessa rodovia é essencial para garantir mais fluidez, segurança e eficiência no transporte da produção agropecuária.
Outro projeto estratégico é a Rota da Celulose, que por hora, segue suspenso em razão de questionamentos da segunda colocada no leilão, a XP Infra Fundo de Investimentos. O vencedor, Consórcio K&G, previa a recuperação e modernização de 870 km de vias estaduais e federais com foco na cadeia florestal. O investimento de R$ 10 bilhões ao longo de 30 anos inclui duplicações, faixas adicionais, acostamentos da BR-262, BR-267, MS-040, MS-338 e MS-395 entre Ribas do Rio Pardo, Campo Grande, Três Lagoas, Água Clara, Bataguassu, Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul e Santa Rita do Pardo, municípios que concentram as maiores operações da indústria de celulose nacional.
Para a Famasul, o enfrentamento dos gargalos logísticos, como a baixa integração entre modais, as limitações de armazenagem e os entraves ambientais em portos e terminais, é condição indispensável para que o estado amplie seu protagonismo no agronegócio nacional. Nesse sentido, a diversificação da matriz logística também ganha destaque, com o modal hidroviário entrando na rota de investimentos.
A hidrovia do Rio Paraguai, entre Corumbá e Porto Murtinho, está em fase de estudos para concessão. A proposta inclui dragagem, balizamento e sistemas inteligentes de navegação, que podem ampliar a competitividade do modal fluvial, com menor custo e menor impacto ambiental em comparação ao rodoviário.
A logística rural também tem sido foco de estudos técnicos. Em março desse ano, em parceria com a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), a equipe do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log) da USP, percorreu cerca de 1.300 km na microrregião de Dourados, que foi uma das regiões selecionadas no país para elaboração de um mapeamento situacional das estradas vicinais. O estudo ocorre em decorrência da publicação da Portaria nº 777/2025, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que estabelece diretrizes para a melhoria da infraestrutura rural no Brasil.
Foco nas exportações
Com a conclusão da Rota Bioceânica — corredor que conecta Mato Grosso do Sul aos portos do Pacífico —, a exportação de produtos será potencializada, com redução de custos e ampliação do acesso aos mercados internacionais. A instituição enxerga que essa é uma das transformações mais relevantes para o futuro do estado, pois insere MS de forma estratégica nas cadeias globais de valor, de forma sustentável e alinhada aos compromissos ambientais.
No modal aéreo, o Plano Aeroviário Estadual prevê R$ 250 milhões até 2026 para modernizar aeroportos e aeródromos estratégicos. Estão em andamento a ampliação da pista do Aeroporto Santa Maria, em Campo Grande, e a construção do novo terminal de passageiros do Aeroporto Regional de Dourados. A iniciativa amplia a conexão de Mato Grosso do Sul com os mercados nacional e internacional, fortalecendo a logística de pessoas e cargas.
A Federação ressalta que a infraestrutura adequada é fator decisivo para a previsibilidade nas entregas, a redução de perdas e o fortalecimento da imagem de MS como fornecedor confiável. Estudos do IPEA e da FGV mostram que cada R$ 1 bilhão investido em infraestrutura pode gerar até R$ 3,5 bilhões de PIB adicional em dez anos. Considerando que os investimentos públicos e privados previstos em logística em Mato Grosso do Sul superam os R$ 13 bilhões até 2030, o potencial de impacto econômico direto e indireto pode ultrapassar os R$30 bilhões apenas no agronegócio.
A integração entre rodovias, ferrovias e hidrovias pode reduzir em até 30% o custo logístico por tonelada transportada — dado que reforça a urgência e a importância desses investimentos. A nova malha logística também tem despertado o interesse de empresas dos setores de armazenagem, agroindústria, energia e transporte, o que evidencia o potencial de atração de novos empreendimentos e o fortalecimento da agroindustrialização.
De maneira geral, esses projetos representam um divisor de águas para o agronegócio sul-mato-grossense, criando as bases para um novo ciclo de crescimento sustentável e competitivo.