Uma pesquisa do PoderData divulgada nesta quinta-feira (31) revela que 59% dos brasileiros acreditam que o país deveria manter relações comerciais prioritárias com os Estados Unidos, em vez da China. Em contrapartida, 32% preferem a China, e 9% não souberam responder.
O levantamento, realizado entre os dias 26 e 28 de julho com 2.500 pessoas em 182 municípios, vem à tona em meio a um novo episódio de tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos: o governo do presidente Donald Trump anunciou um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, a ser aplicado a partir de 6 de agosto.
A preferência por Washington
O apoio maior aos EUA é mais expressivo entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): 61% dos que votaram nele em 2022 dizem preferir uma aliança econômica com os norte-americanos. Entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esse número é de 58%.
Já no grupo que considera a China uma parceira mais estratégica, o destaque é para os eleitores de Lula, com 33%, ante 30% dos bolsonaristas.
Tarifaço e responsabilização
Apesar da preferência pelos EUA, o tarifaço anunciado por Trump gerou críticas internas e trouxe divisões entre os brasileiros. Segundo outro recorte do mesmo levantamento, 46% dos entrevistados que têm conhecimento da medida culpam a família Bolsonaro pela imposição das tarifas. 32% atribuem a responsabilidade ao governo Lula, enquanto 23% não souberam opinar.
O decreto assinado por Trump na quarta-feira (30) traz críticas diretas à condução do Judiciário brasileiro e menciona o tratamento dado ao ex-presidente Bolsonaro como fator de instabilidade institucional no Brasil. “A perseguição política, por meio de processos forjados, ameaça o desenvolvimento ordenado das instituições brasileiras”, diz o documento.
Reações políticas
Em meio ao embate, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou ter atuado para que os Estados Unidos aplicassem sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes, como parte da pressão internacional contra o que ele chama de perseguição política no Brasil.
Segundo Eduardo, as sanções — que incluem a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes — “não são comerciais, mas políticas e jurídicas”.
Cenário em disputa
A pesquisa indica que, mesmo diante de entraves como tarifas e críticas diplomáticas, os EUA continuam sendo vistos pela maioria dos brasileiros como parceiros comerciais estratégicos. Ao mesmo tempo, cresce o debate sobre os custos políticos e econômicos dessa aliança, especialmente em um momento em que China e EUA disputam influência global e o Brasil tenta manter espaço nas duas frentes.
Com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%, o levantamento reforça que o comércio exterior brasileiro está cada vez mais no centro do debate político — tanto nas urnas quanto nas tarifas.