Preço do café deve cair em 2026, mas oferta limitada mantém custo elevado

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(Foto: Marcos Santos / USP Imagens)

Apesar de clima favorável para a próxima safra, anos de colheitas ruins e estoques baixos devem manter os preços altos para consumidores

Após um ano de 2025 marcado por altas históricas, o preço do café deve apresentar queda no próximo ano, mas a tendência não deve resultar em valores baixos para o consumidor. Segundo especialistas, a oferta ainda está limitada, e a recuperação dos cafezais leva tempo.

Em fevereiro deste ano, o café teve a maior inflação acumulada em 12 meses desde a introdução do real, motivando até a venda de um café falso, produzido com resíduos de lavoura. Para 2026, as perspectivas climáticas são mais favoráveis: a previsão de chuvas para a fase de florada, prevista para a segunda quinzena de dezembro e início do próximo ano, deve favorecer o desenvolvimento dos grãos.

“Se o volume de chuvas for adequado no primeiro trimestre, os grãos de café arábica devem se desenvolver bem, o que pode aumentar a produção e recompor os estoques globais”, afirma Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro no Itaú BBA.

Apesar disso, o impacto de anos de clima desfavorável ainda se faz sentir. Geadas, períodos de calor intenso e seca prolongada prejudicaram colheitas recentes, e os cafezais ainda se recuperam. “O café é um cultivo bienal. Muitos galhos ainda estão em desenvolvimento e só ficarão prontos no verão. Grande parte dos talhões ainda está se recuperando”, explica Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Cepea.

Estoques baixos e demanda alta

Enquanto a produção se recupera, a demanda por café continua crescente, mantendo a pressão sobre os preços. Segundo Alves, a safra 2026/2027 deve superar o consumo mundial em 7 milhões de sacas, mas até lá a disponibilidade de arábica será limitada, com exportações restritas.

Nos Estados Unidos, a remoção da tarifa de 50% sobre o café brasileiro deve impulsionar ainda mais as compras externas, ampliando a pressão sobre os estoques. “Não tem um alívio tão grande de estoques assim. O consumo vem crescendo, o mundo precisa de mais café, então não esperamos preços muito menores”, reforça Alves.

Investimento em robusta ajuda a conter preços

Para enfrentar a escassez do arábica, produtores têm investido mais no café robusta, variedade menos popular, porém mais resistente. O aumento da proporção de robusta em blends já ajuda a reduzir parcialmente os custos para o consumidor, mas a mudança ainda levará tempo para refletir plenamente no mercado.

“Ele ajuda a atravessar os próximos meses de pouco arábica no mundo e, quem sabe, na próxima safra, o arábica tenha uma produção melhor”, acrescenta o economista.