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domingo, 16 de novembro, 2025
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Pressão aumenta na COP30 e líderes globais desembarcam em Belém nesta semana

Negociações emperram em financiamento climático e critérios de transparência; ONU cobra mais esforço

Belém receberá, ao longo desta semana, ministros de Estado de dezenas de países para uma nova rodada decisiva de negociações na COP30, após os debates encerrarem a semana anterior sem avanços concretos. O encontro segue marcado por impasses históricos entre países desenvolvidos e nações do Sul Global, especialmente em temas como financiamento climático e critérios de transparência.

Enquanto economias ricas cobram maior ambição e regularidade na divulgação de dados de emissões, países em desenvolvimento insistem que só poderão intensificar seus compromissos se houver garantia dos recursos prometidos. As divergências se concentram em quatro eixos centrais:
• financiamento climático;
• medidas de proteção comercial justificadas por critérios ambientais;
• diferença de ambição entre os países nas metas de redução de emissões;
• confiança e transparência dos dados apresentados.

Expectativa com a chegada dos ministros

A especialista em política climática Stela Herschmann, do Observatório do Clima, avalia que a entrada dos ministros cria ambiente favorável para avanços. Segundo ela, várias salas de negociação já apresentaram novos textos preliminares sobre temas-chave, como a transição justa.

“Quando chegam os ministros e isso sobe para o nível mais político, ficam os assuntos mais tensos para serem tratados e destravados”, afirmou em entrevista à CNN Brasil.

Brasil propõe reflexão sobre o Acordo de Paris

Na tentativa de reduzir o distanciamento entre os países, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, sugeriu uma reflexão em três pontos, aproveitando os 10 anos do Acordo de Paris:

  1. Os países seguem de acordo com as diretrizes do tratado?
  2. As negociações para implementação das políticas estão funcionando?
  3. A comunidade internacional está respondendo com a urgência necessária e demonstrando solidariedade?

Corrêa do Lago acredita que esse exercício pode ajudar a reaproximar as nações, que encerraram a semana com divergências profundas e antigas.

Apelo por avanços

O secretário executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), Simon Stiell, fez um apelo direto aos negociadores para que ampliem os esforços na reta final da conferência.

“Sei que estão cansados, mas mais uma vez peço que avancem. O Acordo de Paris é de vocês para preservar e colocar em prática”, disse.
Stiell reforçou que o processo só avançará se houver disposição para concessões: “Para receber, é preciso dar. Precisamos dar mais.”

O secretário também destacou que o sucesso da COP30 depende da habilidade de os países compreenderem as prioridades alheias. “Os temas críticos estão claros, mas ainda não está claro se todos estão preparados para sentar à mesa. Precisamos avançar rápido.”

Sul Global ganha protagonismo

A primeira semana da conferência também foi marcada por recorde de participação de povos originários e pela maior presença de representantes do Sul Global, reforçando a discussão sobre governança climática.

Um dos momentos mais simbólicos ocorreu quando Corrêa do Lago se reuniu com representantes do povo Munduruku em frente à Blue Zone, após a Marcha Mundial pelo Clima, que reuniu mais de 5 mil pessoas — um marco após três COPs realizadas em países com forte restrição à mobilização social.

Avanços no financiamento climático

O financiamento climático apresentou resultados expressivos:
• O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) alcançou US$ 5,5 bilhões em compromissos, com expectativa de chegar a US$ 25 bilhões.
• Bancos multilaterais anunciaram investimento adicional de US$ 185 bilhões.
• O Banco Interamericano de Desenvolvimento destinou US$ 1 bilhão para adaptação urbana na Amazônia.
• A União Europeia realizou sua primeira doação ao Fundo Amazônia.
• Houve avanços na qualificação global dos mercados de carbono, com apoio de China, Alemanha e França.

Os anúncios consolidam o papel do Brasil como articulador internacional e aumentam a pressão para que a segunda semana da COP30 avance nas questões mais sensíveis.

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