Duas das três propostas vencedoras da 2ª edição do Desafio de Inovação Pantanal Tech MS foram desenvolvidas por equipes da UFMS. O desafio contemplou as áreas de bioeconomia, biodiversidade, turismo e agronegócio e recebeu 102 inscrições.
As soluções premiadas após a realização de pitches foram: em primeiro lugar, a Spirulina Bioativo Pantanal, desenvolvida por uma equipe da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), representada por Michelle Pinheiro Vetorelli; em segundo lugar, Smart Seed.IA, desenvolvida pela startup Dual Link, empresa incubada da UFMS, representada pelo professor do Instituto de Física (Infi) e sócio-fundador, Cauê Martins; e em terceiro lugar, Marmos, desenvolvida pela empresa Damine, também incubada da UFMS, sob liderança do professor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) e sócio-cotista, Edson Batista.
O Desafio de Inovação Pantanal Tech MS é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado (Fundect), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MS). Como premiação, os desenvolvedores de cada uma das três propostas premiadas recebem bolsas de R$ 6,5 mil mensais durante um ano, para o desenvolvimento das soluções.
SmartSeed.IA
A startup Dual Link trabalha conectando o setor produtivo à academia. Uma de suas unidades de negócios busca, dentro das instituições de pesquisa, projetos que possam ser convertidos em tecnologia e inovação, e, fora das universidades, os potenciais clientes para estas inovações. “Neste contexto, nasceu a SmartSeed.IA, nossa solução que utiliza espectroscopia e inteligência artificial para prever o vigor de sementes. Com a nossa solução, é possível obter resultados de vigor de semente em poucos minutos. Isso permite que as sementeiras (como são chamados os laboratórios de análise especializados) prevejam qual será a força de cada uma daquelas plantas”, explica o sócio-fundador, Cauê Martins.
Conforme o professor, as sementeiras costumam realizar de 10 a 14 testes com uma duração média de quatro semanas antes de enviar os resultados aos clientes e estes testes costumam ter grande viés humano. Adicionalmente, todos os lotes ficam armazenados em ambiente climatizado, consumindo energia, recursos humanos e insumos.
Com o SmartSeed.IA, a análise é feita com a coleta de apenas uma amostra de cada lote, com a submissão dessa amostra a um ensaio em um equipamento que é amplamente comercializado e, com o resultado, a empresa utiliza algoritmos super avançados de propriedade intelectual própria, ou seja, patenteados, para chegar à previsão do vigor da planta. “Com o SmartSeed.IA reduzimos os investimentos em energia, insumos, recursos humanos e excluímos completamente o viés humano, de modo que uma máquina passa a tomar a decisão, o que permite que a sementeira preveja quais daqueles grupos, daqueles lotes de semente, são aqueles que terão sucesso comercial. Eles passam a prever isso, então eles têm essa informação adiantadamente”, explica.
Esta foi a primeira vez que a Dual Link participou do Desafio Pantanal Tech e, para o sócio-fundador, a segunda colocação mostra que a solução tem muita relevância e impacto. “Ela pode ser aplicada hoje, de forma imediata, já dentro do nosso Estado e em todo o território brasileiro. O SmartSeed.IA é composto por três doutores, entre os quais um especialista sênior que já trabalha como consultor de grandes sementeiras há mais de 30 anos. Então a juventude, o ímpeto da inovação, com a experiência da equipe tornam o SmartSeed.IA uma solução factível, que é resultado de investimento do nosso Estado, via Sebrae, via Fundect, da Semadesc, do Governo do Estado e também da UFMS”, informa.
Além do troféu, a empresa irá receber R$ 78 mil distribuídos em doze meses de bolsa, que serão utilizados na estrutura, para fortalecer os recursos humanos. A startup Dual Link está incubada na UFMS e foi criada no início de 2023 no Programa Centelha do Governo do Estado. Atualmente, são quatro colaboradores.
Marmos
A startup Damine foi criada em 2020 a partir de pesquisas aplicadas desenvolvidas na UFMS. Inicialmente operava sob o nome de Qualimeat, com o objetivo principal de desenvolver tecnologia de ponta para agregar valor e produtividade ao agronegócio, eliminando a subjetividade de processos críticos. Com a evolução do portfólio de soluções e ampliação de atuação, a Qualimeat deu lugar à Damine, nome que reflete o compromisso ampliado com a inovação, sustentabilidade e a transformação digital do setor agroindustrial.
Além de desenvolver soluções tecnológicas, a empresa tem se consolidado como ambiente formativo, com oportunidades para estudantes de graduação e pós-graduação atuarem diretamente em projetos de inovação com alto grau de aplicabilidade. “Atualmente, nossa equipe multidisciplinar tem sete pessoas com talentos nas áreas de engenharia, ciência da computação e gestão, todos focados em conectar à Indústria 4.0 por meio de produtos inovadores. Com o apoio fundamental do programa de incubação da UFMS, a Damine vem ganhando a maturidade necessária para levar o Marmos ao mercado com sucesso”, informa o sócio-cotista Edson Batista.
O Marmos foi desenvolvido para modernizar as atividades operacionais dos frigoríficos. “É um equipamento portátil com inteligência artificial embarcada que, de forma instantânea e objetiva, avalia parâmetros essenciais da carcaça bovina, como marmoreio, espessura de gordura e área de olho de lombo. Ele elimina a subjetividade da avaliação visual, promove a rastreabilidade total e integra os dados aos sistemas de gestão do frigorífico”, comenta.
O professor conta que, desde o início do desafio, a equipe composta por ele, pela administradora Luciana de Campos e pelo sócio, o engenheiro egresso da UFMS e estudante do Mestrado em Engenharia Elétrica Jader Lucas Perez, sabia que estariam em um ambiente com alto nível técnico. “Isso nos motivou a investir intensamente na preparação que envolveu diversas etapas integradas: construção colaborativa do modelo de negócio com o auxílio do Business Model Canvas, disponibilizado pela organização do desafio, elaboração de uma apresentação clara e impactante, redação técnica dos documentos submetidos, e desenvolvimento de um pitch convincente, ajustado aos critérios do desafio. Cada membro assumiu papéis complementares da análise de mercado e diferenciais tecnológicos à modelagem financeira e storytelling do produto, o que fortaleceu ainda mais nossa sinergia como time empreendedor”, explica.
O sócio-cotista destaca o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MS) na montagem e nos testes do equipamento Marmos e afirma que, além da visibilidade e das conexões estratégicas com o ecossistema de inovação do Estado, o evento proporcionou um ganho inestimável de maturidade empreendedora, especialmente em como apresentar soluções tecnológicas de alto impacto para “investidores”, parceiros institucionais e grandes players do setor produtivo nacional.
Para o professor, a premiação é motivadora do potencial inovador gerado em Mato Grosso do Sul. “Ficamos muito honrados com o reconhecimento deste prêmio, que tem um significado que vai muito além do valor financeiro. Ver outros nove finalistas com soluções na fronteira da inovação mostrou a força do nosso ecossistema e valoriza imensamente nossa conquista. É uma confirmação de que estamos no caminho certo e um incentivo para continuarmos investindo em pesquisa e desenvolvimento”, aponta.
O recurso do prêmio será utilizado para o aprimoramento do Marmos, que já está em testes em frigoríficos do Estado, e para a estruturação do canal de comercialização da empresa. A solução inovadora também foi a única do Centro-Oeste selecionada em uma das fases do edital Smart Factory do Senai em 2023.