O depoimento do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, foi um dos momentos mais aguardados da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS. Realizada nesta quinta-feira (25), a oitiva terminou em clima de tensão, com negações por parte do empresário, acusações do relator e até um pedido de prisão preventiva contra um dos advogados envolvidos no caso.
Segundo o relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), as declarações de Antunes foram “revestidas de mentiras” e não coincidem com os dados já reunidos pela CPMI e pela Polícia Federal. Para ele, embora as respostas não tenham colaborado com a apuração, elas confirmaram as descobertas feitas até agora.
As investigações apuram um esquema de cobranças associativas não autorizadas, descoberto em abril, que teria atingido milhares de beneficiários em todo o país. Antunes é apontado como líder de um grupo empresarial envolvido na fraude e intermediário financeiro das entidades associativas, embora Gaspar afirme que ele protege pessoas acima dele na hierarquia do esquema.
Negativas e defesa
Em sua fala, o empresário negou envolvimento com o caso e disse que seu patrimônio é fruto do trabalho como “empreendedor nato”. Antunes também reclamou do apelido pelo qual ficou conhecido: “Não sou, nunca fui e nunca serei jamais esse Careca do INSS que estão falando”, declarou.
Apesar de ter comparecido amparado por um habeas corpus que lhe dava direito ao silêncio, ele respondeu às perguntas e prometeu apresentar mais de 18 milhões de documentos à Polícia Federal para comprovar sua inocência.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que Antunes mantinha relações com autoridades do INSS e do parlamento, ainda que negasse: “Está muito claro ali a facilidade com que ele tinha de relacionamento com figuras importantes”, disse.
Pedido de prisão e quebra de sigilos
Durante a sessão, a comissão aprovou o pedido de prisão preventiva do advogado Nelson Wilians, apontado como ligado ao investigado Maurício Camisotti. A decisão será encaminhada ao ministro André Mendonça, do STF, relator dos inquéritos relacionados ao caso. A CPMI também autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Wilians em diferentes períodos entre 2019 e 2025.
Segundo os parlamentares, a medida é necessária para impedir riscos às investigações, diante de indícios de intimidação de testemunhas.
Clima tenso e bate-boca
O depoimento ainda foi marcado por um bate-boca entre parlamentares e o advogado de defesa de Antunes, Cleber Lopes. Após o relator chamar o empresário de “autor do maior roubo da história”, a tentativa de resposta do advogado foi interrompida de forma ríspida pelo deputado Zé Trovão (PL-SC), que mandou o defensor “se colocar no seu lugar”. O episódio levou a OAB-DF a cobrar uma retratação da CPMI, mas o presidente Carlos Viana minimizou a situação e disse que os advogados têm sido respeitados nos trabalhos.
Próximos passos
A CPMI se reúne novamente na segunda-feira (29) para ouvir dois depoimentos considerados estratégicos: o empresário Fernando Cavalcanti, que teve uma adega de R$ 7 milhões apreendida pela Polícia Federal, e o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, entidade apontada como uma das que mais receberam recursos do esquema.
Após a fase de oitivas, as informações serão cruzadas com dados da Receita Federal e movimentações bancárias. Para especialistas, como o advogado previdenciário Washington Barbosa, a chave para o avanço da investigação está em “seguir o dinheiro” para identificar os verdadeiros beneficiários das fraudes.