Governador Cláudio Castro afirma que ação contra o Comando Vermelho foi planejada por 60 dias e contou com apoio do Ministério Público
Após um dia marcado por intensos confrontos e cenas de “guerra urbana” nos complexos do Alemão e da Penha, o governo do Rio de Janeiro reforçou o policiamento nesta quarta-feira (29) em toda a capital. A medida busca evitar novas retaliações do Comando Vermelho (CV) e restabelecer a normalidade, após a megaoperação que terminou com 64 mortos — sendo 60 suspeitos e quatro policiais, além de 81 presos e 93 fuzis apreendidos.
De acordo com o governador Cláudio Castro (PL), a ação, batizada de Operação Contenção, foi planejada durante 60 dias e teve como objetivo combater a expansão territorial da maior facção criminosa do estado. “Foi uma operação planejada, com mandado judicial e investigação de mais de um ano, conduzida com participação do Ministério Público”, afirmou Castro em entrevista à CNN Brasil.
A ofensiva, iniciada nas primeiras horas da manhã de terça-feira (28), mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar, com apoio de drones, dois helicópteros, 32 blindados e 12 veículos de demolição. Os alvos principais eram lideranças do Comando Vermelho, entre elas Thiago do Nascimento Mendes, o Belão, operador financeiro da facção e braço direito do traficante Edgard Alves, o Doca — apontado como chefe do tráfico na Penha.
Cenário de guerra e caos urbano
Durante mais de 12 horas de confronto, moradores relataram tiroteios intensos e barricadas em várias regiões da cidade. Criminosos chegaram a usar drones armados com explosivos contra as forças de segurança. O sistema de transporte público entrou em colapso, com mais de 200 linhas de ônibus afetadas e 71 veículos sequestrados por traficantes para bloquear vias.
Pelo menos três civis foram atingidos por balas perdidas, e nove policiais ficaram feridos. Em represália, criminosos de outras áreas dominadas pelo CV incendiaram veículos e fecharam ruas. O Rio entrou em estágio 2 de atenção, segundo o Centro de Operações da Prefeitura.
Serviços suspensos
A violência também impactou serviços essenciais. Três unidades de saúde da Penha e do Alemão suspenderam totalmente o atendimento, e outras quatro fecharam temporariamente. A Secretaria Municipal de Educação informou que 29 escolas foram afetadas no Alemão e 17 na Penha.
O RioÔnibus relatou que motoristas foram obrigados por criminosos a abandonar veículos em meio aos bloqueios. Parte do comércio também manteve as portas fechadas nesta quarta.
Mortes de policiais e reação política
Entre os mortos estão os policiais civis Marcos Vinícius (53ª DP) e Rodrigo Cabral (39ª DP), além dos sargentos Cleiton Serafim Gonçalves e Heber Carvalho da Fonseca, do Bope. “O Rio não vai ficar refém de grupos criminosos”, declarou o prefeito Eduardo Paes.
O governador Cláudio Castro disse ainda que o estado vem tentando apoio das Forças Armadas, mas que três pedidos de empréstimo de blindados foram negados pelo Exército. Ele afirmou que o Rio “está sozinho” no combate ao crime organizado e defendeu maior integração com o governo federal.
Operação mais letal da história
Com 64 mortos, a Operação Contenção já é a mais letal da história do Rio de Janeiro, superando a ação no Jacarezinho em maio de 2021, que deixou 28 mortos.
Segundo o balanço oficial, as forças de segurança apreenderam 93 fuzis, toneladas de munição e drogas, além de prender 81 integrantes do Comando Vermelho. A operação continua em andamento em pontos estratégicos das zonas norte e metropolitana.
“Há um primeiro dia de estresse, e a tendência é ir se acalmando”, disse o governador, ao afirmar que espera o funcionamento normal dos serviços nesta quarta-feira.
Enquanto o governo tenta conter o impacto e evitar novas ondas de violência, moradores dos complexos do Alemão e da Penha seguem vivendo sob forte tensão — em meio a uma operação que ficará marcada como a mais violenta e polêmica da história recente do Rio.











