O déficit do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que atende aposentados, pensionistas e beneficiários de auxílios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), superou a marca de R$ 200 bilhões nos primeiros seis meses de 2025. O valor, de R$ 203,6 bilhões, é o maior já registrado para o período em toda a série histórica, acima até do observado em 2020, ano da pandemia de Covid-19.
Em relação ao mesmo semestre de 2024, houve um aumento de 3%, quando o rombo somou R$ 198,2 bilhões, segundo dados do Boletim Estatístico da Previdência Social. A alta foi impulsionada pela queda na arrecadação e pelo aumento das despesas, como novas concessões de aposentadorias e pensões, além da antecipação do 13º salário do INSS, pago em abril e maio.
Debate sobre reformas volta à pauta
O cenário reacendeu o debate sobre a sustentabilidade da Previdência. Especialistas apontam que, apesar da estabilização relativa após a Reforma de 2019, o desequilíbrio estrutural entre receitas e despesas segue sendo um dos maiores desafios fiscais do país.
“Esse déficit é muito expressivo, naturalmente, mas não totalmente inesperado. O crescimento foi modesto em comparação com anos anteriores”, explica Luis Lopes Martins, professor da FGV Direito Rio. Segundo ele, após a reforma, o avanço do rombo perdeu velocidade, mas segue em trajetória de alta.
Martins destacou ainda que o resultado de curto prazo é influenciado pelas condições do mercado de trabalho. Redução do desemprego e aumento da massa salarial, por exemplo, ajudam a frear o crescimento do déficit, mas não resolvem os problemas de longo prazo.
O peso da demografia
As projeções oficiais indicam que o déficit previdenciário pode passar dos atuais 2,5% do PIB para mais de 11,5% nas próximas décadas, um salto de quase quatro vezes.
Entre os principais fatores estão o envelhecimento acelerado da população e a queda da taxa de natalidade. Hoje, a média de filhos por mulher no Brasil é de 1,57, bem abaixo da taxa de reposição populacional de 2,1.
“O envelhecimento no Brasil ocorre em um ritmo muito mais rápido do que em países como a França, onde a população idosa levou mais de um século para dobrar. Aqui, isso deve acontecer em menos de 20 anos”, compara Martins.
Segundo ele, esse cenário trará desafios crescentes ao Estado brasileiro. “Estamos falando da principal despesa do Orçamento da União. É inevitável que novas discussões sobre reforma previdenciária retornem ao debate político nos próximos anos.”
Desafio de longo prazo
Embora parte do aumento da expectativa de vida seja uma boa notícia — mais brasileiros alcançando idades avançadas com saúde —, especialistas alertam que o efeito sobre os gastos públicos será inevitável.
“Esse é um desafio estrutural, que precisa ser enfrentado com planejamento. Caso contrário, o déficit previdenciário se tornará um obstáculo ainda maior para o equilíbrio fiscal do país”, conclui Martins.