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quarta-feira, 6 de agosto, 2025
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Sem avanço nas negociações, tarifa de 50% dos EUA começa a valer nesta quarta

A partir desta quarta-feira (6), entra em vigor a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre diversos produtos brasileiros, medida determinada pelo presidente norte-americano Donald Trump. O governo brasileiro, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, tenta desde o início de julho reverter a decisão por meio de negociações diplomáticas, sem sucesso até o momento.

Apesar de a medida tarifária ter excluído 694 produtos da nova taxação — como suco de laranja, aeronaves, combustíveis e minério de ferro — itens importantes da pauta exportadora brasileira, como carne bovina, café e cacau, passaram a ser integralmente taxados.

Lula tenta minimizar impacto

Na terça-feira (5), durante plenária do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), Lula afirmou que a resolução do conflito comercial com os EUA é um desafio, mas que considera outras questões mais urgentes no país. “Esse problema dos EUA contra nós, isso a gente resolve. É mais fácil resolver isso do que combater a fome e a miséria neste país. É muito mais fácil”, declarou, sob aplausos.

Mais cedo, o presidente indicou que pretende ligar para Trump, mas sem tratar diretamente da tarifa. “Eu não vou ligar para o Trump para comercializar, não, porque ele não quer falar. Mas eu vou ligar para convidá-lo para vir para a COP, porque quero saber o que ele pensa da questão climática.”

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) está marcada para novembro, em Belém (PA), e deve reunir chefes de Estado de todo o mundo.

Postura do governo e possível retaliação

Desde o anúncio oficial da tarifa, em 9 de julho, o Palácio do Planalto formou um comitê interministerial coordenado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, com o objetivo de dialogar com o setor produtivo e representantes norte-americanos. A medida é considerada desproporcional e, embora o Brasil ainda priorize o diálogo, não descarta ações de retaliação.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que uma eventual conversa direta entre os presidentes precisa de preparo adequado. “Quando dois chefes de Estado conversam, existe preparação prévia. São dois países soberanos; não é um correndo atrás do outro.”

Além das articulações diplomáticas, o governo brasileiro acionou a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a taxação.

Justificativas de Trump

Trump, por sua vez, justifica a imposição da tarifa como uma resposta a supostos ataques à liberdade de expressão de empresas americanas e ao tratamento reservado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelas instituições brasileiras. “A forma como o Brasil trata o ex-presidente Bolsonaro é uma vergonha internacional”, afirmou.

O ex-presidente norte-americano classificou o julgamento de Bolsonaro como “caça às bruxas” e afirmou que Lula pode ligar “a qualquer momento” para negociar.

Produtos afetados e exceções

A ordem executiva assinada por Trump excluiu 694 produtos da tarifa, como derivados de petróleo, fertilizantes, metais estratégicos, aeronaves civis e suas peças, além de itens de doações humanitárias e materiais informativos.

Entretanto, commodities agrícolas sensíveis como carne bovina, café, cacau e outras permanecem sujeitas à cobrança, o que preocupa exportadores brasileiros.

Discurso de cautela

Apesar da firmeza diante da medida, Lula reconheceu no último domingo (3) os limites do enfrentamento com Washington. “Nessa briga com a taxação dos EUA, eu tenho limite. Não posso falar tudo que acho que devo falar, tenho que falar o que é possível falar.”

Em outro trecho, alertou para o risco de violar princípios diplomáticos. “Se a gente perder o senso de responsabilidade e começar a comentar assuntos internos de outros países, estamos ferindo a soberania.”

Impacto e próximos passos

O impacto econômico da tarifa será mais sentido nos setores do agronegócio e alimentos, tradicionais no comércio bilateral. Por ora, o governo brasileiro aposta no equilíbrio diplomático e no peso do Brasil como parceiro estratégico para tentar reverter o tarifaço.

A crise comercial promete ser um dos maiores testes na relação entre Lula e Trump — dois líderes com visões políticas e diplomáticas diametralmente opostas, mas que terão que encontrar um caminho comum diante dos interesses econômicos de ambos os países.

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