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quinta-feira, 25 de setembro, 2025
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Semana da Pessoa Idosa: Quando a vida recomeça depois dos sessenta 

Com 87 anos, Cecília Prado Dantas considera que agora – e somente agora –, a idade começou a chegar. A quase nonagenária tem rotina que une tempo livre à realização de atividades prazerosas: organiza sua casa, faz bordado, passeia, visita as amigas e, mais importante, dança toda sexta-feira. Cecília concretiza em sua idade, disposição e cotidiano, a ideia de que envelhecer pode representar, sim, o “lado B” da vida, momento em que projetos postergados podem ser efetivados e a felicidade, feita de coisas simples, pode se tornar realidade.

Semana da Pessoa Idosa: Quando a vida recomeça depois dos sessenta 
Deputado Renato Câmara, autor da lei que cria a Semana (Foto: Wagner Guimarães)

Hoje e os próximos dias estimulam essa atenção maior ao envelhecimento com saúde, dignidade e qualidade de vida. Isso porque Mato Grosso do Sul celebra, a partir desta quinta-feira (25) ao dia 1º de outubro, a Semana Estadual do Idoso, instituída pela Lei 4.796/2015, de autoria do deputado Renato Câmara (MDB), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, da Assembleia Legislativa (ALEMS) e 1º vice-presidente da Casa de Leis.

O deputado chama à atenção para algo que muitas pessoas não se atentam: a velhice não é uma “caixinha” separada do restante da vida. “Sempre digo que, quando falamos do idoso, legislamos em causa própria, porque estamos todos envelhecendo”, lembra Renato Câmara. “Como presidente da Frente Parlamentar de Combate à Violência contra o Idoso e vice-presidente da ALEMS, nosso foco é tirar do papel políticas concretas”, pontua.

Renato Câmara destaca algumas iniciativas originadas de discussões da Frente Parlamentar. “A experiência ‘Cidade Madura’, apresentada no nosso seminário, mostra um caminho com condomínios planejados para quem tem 60+, com unidades acessíveis e áreas de convivência e saúde. Também vamos ancorar decisões em evidências: a Plataforma do Envelhecimento que começamos a construir com a UFMS vai integrar indicadores de saúde, cuidado de longa duração e capacidade funcional”, exemplifica.

Ele enfatiza também a campanha Junho Prata, criada pela Lei 5.215/2018, de sua autoria. “O Junho Prata virou política permanente de enfrentamento à violência”, disse. E acrescentou a aprovação de “leis que dão prioridade às investigações e reforçam a notificação compulsória”. Sobre a Semana Estadual do Idoso, o parlamentar afirma que o compromisso é a promoção do envelhecimento com saúde, dignidade, planejamento, orçamento e execução.

Cecília Dantas: “A dança, eu não largo de mim”

Semana da Pessoa Idosa: Quando a vida recomeça depois dos sessenta 
Local onde Cecília dança e passa momentos agradáveis (Foto: Luciana Nassar) 

“Eu levanto de manhã, tomo meu cafezinho, dou uma organizada na casa, de leve, né, porque a idade já está chegando aí”, conta dona Cecília Dantas parte de sua rotina. E enfatiza uma relação quase simbiótica entre ela e a dança, em que o sujeito e o predicado se confundem e se fundem: “A dança, eu não largo de mim”.

Toda sexta-feira, há o sagrado compromisso com o vanerão, a vanera, o chamamé, a polca e outras danças. “A dança é sagrada. Toda sexta, eu estou dançando. Porque eu gosto muito de dançar”, reforça, na tentativa de encontrar palavras para algo que as palavras não alcançam. “A dança, pra mim, é uma fisioterapia para o corpo todo. E ajuda até na memória. É muito bom”, avalia dona Cecília.

E para um momento tão bom e saudável ao corpo e à alma, é preciso elegância à altura. E foi chique assim que a dona Cecília atendeu à equipe de reportagem da ALEMS em uma das sextas-feiras de dança. Ela usava uma saia rodada, ornamentada com rosas, que deixava suas voltas na pista ainda mais graciosas.

Para a dona Cecília, dançar está entre os ingredientes de uma saudável iguaria para a vida. Ela acrescenta ao cardápio arrumar a casa, passear, viajar e conversar com as amigas.

E com toda autoridade de quase nove décadas de vida, ela pede às novas gerações que respeitem os idosos. “Tem várias coisas que a gente fala do nosso jeito, do nosso tempo de jovem. Aí as pessoas novas de hoje tiram até sarro, brincam, falam que está errado, dão risada na cara da gente. Eu acho que não devia ser assim porque cada época é uma época”, ensina.

“No amanhã, nós viveremos os investimentos que fazemos hoje”, diz médico

Semana da Pessoa Idosa: Quando a vida recomeça depois dos sessenta 
José Roberto orienta sobre envelhecer com saúde (Foto: Arquivo pessoal)

O cotidiano da dona Cecília cabe, na medida, nas considerações feitas pelo geriatra José Roberto Pelegrino. “A velhice é uma fase em que as pessoas, na sua maioria, já estão aposentadas, e, assim, têm à sua disposição um tempo maior para fazer aquilo de que gosta, para explorar suas novas habilidades, para cultivar novas amizades. Então, o período de velhice pode ser uma época bastante proveitosa, pode ser uma época feliz, de realizações”, afirma o médico.

Diferentemente da visão comum, que estabelece relação necessária entre envelhecimento e doenças, Pelegrino afirma que há enfermidades específicas em cada fase da vida. “Cada fase apresenta suas próprias condições de saúde. Na infância, por exemplo, temos viroses; na idade adulta, doenças profissionais e transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Com o avanço da idade, especialmente sem prevenção, podem surgir doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, osteoartrose e osteoporose, comuns a partir dos 50 anos”, explica. No entanto, ele reforça: é possível mudar essa realidade com cuidados adequados ao longo da vida.

Sobre como envelhecer com saúde, o geriatra enfatiza a importância do estilo de vida. “No amanhã, nós viveremos os investimentos que fazemos hoje”, afirma. E, nesses investimentos, deve-se considerar diferentes frentes. “Atividade física, alimentação saudável, sono de qualidade, reserva cognitiva, relações sociais significativas e resiliência emocional. Além disso, é preciso corrigir problemas existentes, como obesidade ou hipertensão. Os pilares começam com exercícios aeróbicos e de resistência e alimentação equilibrada”, orienta o geriatra.

Veja, ao fim desta matéria, áudio com a íntegra das falas do médico José Roberto Pelegrino.

Semana da Pessoa Idosa: Quando a vida recomeça depois dos sessenta 
Arte: Osvaldo Júnior

Em MS, população idosa cresce 64% e de crianças cai 8,6%

Como ocorre, de modo geral, em todo o planeta, Mato Grosso do Sul está em curso acelerado de envelhecimento demográfico: enquanto a população com sessenta anos ou mais aumentou 64%, a parcela mais jovem (zero a 13 anos) sofreu redução de 8,6%.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 2,848 milhões de pessoas no estado, dos quais 433 mil têm sessenta anos ou mais. Esse número corresponde a 15% da população sul-mato-grossense – ou seja, de cada grupo de 20 pessoas, três são idosas.

Há dez anos, em 2015, essa parcela correspondia a 10% dos 2,584 milhões de habitantes no estado na época – eram 265 mil idosos. De lá para cá, essa parcela populacional foi a que mais cresceu. Somente os grupos etários com sessenta ou mais e o de quarenta a sessenta registraram aumentos: 63,39% e de 28,92%, respectivamente. Os demais diminuíram, com destaque à faixa etária de zero a treze anos, com variação negativa de 8,6%.

Uma festa para a vida

Entre as iniciativas da ALEMS de defesa dos direitos idosos, há o livro infantil “Uma festa para a vida: animais do Pantanal e os direitos dos idosos”, produzido pela Comunicação Institucional da ALEMS. O objetivo é contribuir para uma mudança cultural desde a infância. 

Clique na imagem ao lado (página do livro) e acesse a publicação. 

O livro, que integra a coleção “Cidadania é o bicho”, usa a fauna pantaneira para inserir no universo infantil temas sérios relativos à violência contra a pessoa idosa, como negligência, chantagem emocional, violência material e agressão física.

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