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sábado, 6 de setembro, 2025
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Tarifaço de Trump completa um mês: exportações caem e preços recuam no Brasil

Exatos 31 dias após a decisão da Casa Branca de elevar de 10% para 50% as tarifas sobre parte das mercadorias brasileiras, os efeitos já são visíveis na balança comercial e no bolso do consumidor.

A medida, em vigor desde 6 de agosto, afetou diretamente setores como café, carne, madeira, pescados, frutas e alumínio, inviabilizando exportações para os Estados Unidos — até então principal destino de boa parte dessa produção.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), as vendas brasileiras aos EUA caíram 18,5% em agosto de 2025, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Estoques voltam ao mercado interno

Sem acesso ao parceiro histórico, produtores precisaram redirecionar estoques para o mercado nacional. Como consequência, houve queda de preços em vários itens entre julho e agosto, de acordo com levantamento da Scanntech baseado em 13,5 bilhões de tíquetes de compra:

  • Frango: -5,7% (R$ 17,33/kg)
  • Café: -4,6% (R$ 76,40/kg)
  • Carne suína: -1,3% (R$ 23,05/kg)
  • Carne bovina: -0,8% (R$ 34,58/kg)

O único setor que registrou alta foi o de pescados, com aumento de 2% (R$ 34,43/kg), impulsionado pela maior demanda interna no segundo semestre.

Indústria desconfia do futuro

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a confiança do setor exportador sofreu forte impacto após o tarifaço. O Índice de Confiança do Empresário Industrial caiu de 50,2 pontos em junho para 45,6 em agosto, abaixo da linha que indica otimismo.

“O aumento da oferta interna pressiona os preços no varejo. O consumidor sente alívio no curto prazo, mas isso gera apreensão em cadeia para produtores e indústrias”, avaliou Thomaz Machado, CEO da Scanntech.

Busca por novos mercados

Enquanto a crise se instala, o governo brasileiro tenta abrir portas em outros destinos. Em agosto, missões comerciais foram enviadas ao Japão e ao México, enquanto a China já sinalizou interesse em produtos como café, gergelim e farinha de aves.

Para o economista Robson Gonçalves, da FGV, embora novos mercados tragam perspectivas, o impacto imediato exige ajustes internos. “Por enquanto, a solução é voltar a produção ao mercado doméstico. E a única forma de absorver essa oferta extra é pela queda de preços”, afirmou.

Incerteza em Washington

Paralelamente, uma comitiva empresarial com 141 entidades, liderada pela CNI, esteve em Washington tentando reverter a decisão americana. Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), resume o sentimento do setor: “incerteza”.

Apesar do cenário adverso, especialistas enxergam possibilidade de ganhos futuros. “Se conseguirmos resistir ao longo de dois anos, nossas carnes, pescados, frutas e derivados podem consolidar novos mercados. Esse movimento deveria ter começado décadas atrás”, analisou Gonçalves.

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