Lideranças locais resistem ao alinhamento com Lula, enquanto PT aposta na ministra no maior colégio eleitoral do país
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB-MS), tornou-se peça central de um xadrez político que extrapola as fronteiras de Mato Grosso do Sul e pode redefinir o papel do MDB nas eleições de 2026. Nos bastidores de Brasília e das cúpulas partidárias, ganha força a possibilidade de a ministra disputar uma vaga no Senado por São Paulo, movimento que agrada ao PT e ao Palácio do Planalto, mas aprofunda a crise interna do MDB sul-mato-grossense.
A hipótese de uma candidatura paulista, ventilada por lideranças petistas, é vista com simpatia por Simone e por estrategistas do governo federal. A avaliação é de que São Paulo, maior colégio eleitoral do país e tradicional reduto da direita, precisa de um palanque robusto para a base lulista. Nesse cenário, Tebet poderia integrar uma chapa considerada competitiva ao lado de nomes como Fernando Haddad, Geraldo Alckmin ou Márcio França, mirando tanto o governo estadual quanto as duas vagas ao Senado.
Outro fator pesa no cálculo político: o Senado. Aliados avaliam que a disputa pela Casa Alta será decisiva para a governabilidade a partir de 2027, já que o governo Lula não conta hoje com maioria confortável. Simone Tebet, que obteve 4,8 milhões de votos na eleição presidencial de 2022, é vista como um nome com potencial para agregar votos em um estado altamente polarizado. Além disso, a ministra mantém vínculos pessoais com São Paulo — filhas que moram na capital e propriedades no litoral —, o que facilitaria o enraizamento de uma eventual campanha.
Enquanto isso, em Mato Grosso do Sul, a indefinição sobre o futuro eleitoral da ministra escancarou um racha histórico no MDB. A atuação de Tebet como integrante do governo Lula e a possibilidade de ela não disputar o Senado pelo estado provocaram reações duras de lideranças tradicionais da sigla. O ex-governador André Puccinelli, maior nome do MDB local, chegou a afirmar que, se Simone quiser apoiar Lula em 2026, “que mude de partido”.
Parte da bancada estadual e a direção do MDB em MS sinalizam alinhamento com forças de oposição ao governo federal, como PSDB e Republicanos, mirando uma federação partidária e o apoio à reeleição do governador Eduardo Riedel (PP). Esse movimento coloca o partido em uma “saia justa” com a executiva nacional, que ainda vê Tebet como possível candidata ao Senado pelo estado.
O clima é de tensão. Filiados históricos, como o deputado estadual Júnior Mochi, com mais de quatro décadas de filiação, não descartam deixar o MDB caso Simone dispute em Mato Grosso do Sul alinhada a Lula. A base local defende, sem consenso, a construção de um palanque duplo — que permitiria apoio simultâneo a Lula e a Riedel —, arranjo considerado politicamente complexo. Em sentido oposto, o presidente municipal do MDB em Campo Grande, Jamal Salém, afirma que manterá apoio irrestrito à ministra, destacando a lealdade pessoal acima das disputas internas.
Diante do impasse, dirigentes do MDB sul-mato-grossense cobram uma reunião urgente para definir os rumos do partido e evitar uma debandada. A data do encontro, porém, ainda não foi marcada.
Publicamente, Simone Tebet adota cautela. Afirma que só discutirá eleições “um ano antes do pleito” e diz estar disposta a permanecer no Ministério do Planejamento até dezembro de 2026. Embora tenha declarado, em junho, que não disputaria mandato por outro estado, o convite paulista a fez relativizar a posição. Ela e o marido, Eduardo Rocha, reafirmam a permanência no MDB e aguardam a definição sobre federações partidárias antes de qualquer decisão.
No PT de Mato Grosso do Sul, a possibilidade de Simone não concorrer pelo estado já é tratada como real. O deputado estadual Zeca do PT avalia que, pelo tamanho político que a ministra alcançou, uma candidatura em São Paulo seria “melhor para ela e para o Lula”. Já o deputado federal Vander Loubet afirma que “Simone é boa em qualquer lugar”, mas vê mais lógica na transferência do título eleitoral para São Paulo, onde, segundo ele, a ministra pode crescer e se projetar para voos mais altos.
“Também está em jogo o pós-Lula. Essa é a última eleição dele. Alckmin, Simone, Haddad, Camilo estão de olho em quem será o sucessor”, analisa Vander.
O futuro de Simone Tebet expõe, mais uma vez, o dilema histórico do MDB: um partido de forte capilaridade e peso institucional, mas dividido entre projetos nacionais e interesses regionais. Para a ministra, os caminhos estão postos — disputar o Senado por São Paulo, enfrentar resistências internas em Mato Grosso do Sul ou permanecer no governo adiando a decisão. Para o MDB sul-mato-grossense, a indefinição já cobra um preço: paralisia política, risco de racha e enfraquecimento de uma legenda que sempre foi protagonista na política estadual.




















