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terça-feira, 28 de outubro, 2025
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Um mês após primeiros casos, surto por metanol deixa 15 mortos e leva à criação de comitê nacional

Trinta dias após a divulgação dos primeiros casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas, em 26 de setembro, autoridades de saúde e segurança em todo o país intensificaram ações para conter o avanço da contaminação e identificar a origem do problema. Desde então, hospitais de referência foram organizados, as testagens aceleradas e operações integradas entre vigilâncias sanitárias e polícias passaram a ocorrer em várias regiões.

De acordo com o balanço mais recente, divulgado na última sexta-feira (24), o surto soma 58 casos confirmados, 50 em investigação e 15 mortes — a maioria em São Paulo, mas também com registros no Paraná e em Pernambuco. Outros nove óbitos seguem sob análise.

O estado de São Paulo continua com o maior número de notificações, com 44 casos confirmados e 14 em investigação. O estado já descartou outras 434 notificações.

Além de São Paulo, há casos confirmados em outros estados: Pernambuco (5), Paraná (6), Rio Grande do Sul (1), Mato Grosso (1) e Tocantins (1).

Em relação aos casos em investigação, São Paulo analisa 14, Pernambuco (19), Rio de Janeiro (1), Piauí (4), Mato Grosso (4), Mato Grosso do Sul (1), Rio Grande do Norte (1), Paraná (4), Minas Gerais (1) e Tocantins (1).

Dos casos confirmados, 15 são óbitos: 9 em São Paulo, 3 no Paraná e 3 em Pernambuco. Outros 9 óbitos seguem em investigação, sendo 4 em PE, 2 no PR, 1 em MG, 1 no MS e 1 em SP. Outras 32 notificações de óbitos foram descartadas.

Falsificação de bebidas e combustível adulterado

As investigações apontam que a contaminação teve origem na falsificação de bebidas que utilizaram álcool combustível adulterado com metanol. A descoberta ocorreu após vinte dias do primeiro alerta emitido pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas (SP), que notificou a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), ligada ao Ministério da Justiça.

No dia 17 de outubro, uma operação da Polícia Civil de São Paulo localizou dois postos de combustíveis no ABC paulista suspeitos de vender o produto adulterado. Antes disso, os investigadores já haviam encontrado uma distribuidora de bebidas falsificadas na capital.

“O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian.

Ações emergenciais e resposta do governo

As ações de enfrentamento foram integradas em 7 de outubro, quando o governo federal criou um comitê de crise para coordenar a resposta ao problema. Na mesma data, foi enviada uma nova remessa de etanol farmacêutico aos hospitais de referência e anunciado o reforço no estoque do antídoto fomepizol, usado no tratamento da intoxicação por metanol.

Um dia depois, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou que o metanol encontrado nas garrafas adulteradas havia sido adicionado artificialmente, com concentrações muito acima das detectadas em destilações naturais. O laudo levou à adoção de um novo protocolo de análise pela Polícia Técnico-Científica, reduzindo o tempo de identificação das bebidas contaminadas.

Avanços científicos e impacto no comércio

A mobilização também envolveu universidades. Pesquisadores do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram um “nariz eletrônico” capaz de identificar, com apenas uma gota, a presença de metanol em bebidas alcoólicas.

“O equipamento transforma aromas em dados, que alimentam a inteligência artificial e permitem reconhecer a assinatura química de cada amostra”, explicou o professor Leandro Almeida, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo a Abrasel, associação do setor de bares e restaurantes, o episódio provocou queda de até 5% no consumo de bebidas alcoólicas em setembro.

Fiscalização e novas medidas legislativas

Além das operações e análises laboratoriais, o tema chegou ao Legislativo. Em São Paulo, uma CPI municipal deve iniciar seus trabalhos nesta terça-feira (28), ouvindo autoridades estaduais sobre o combate à falsificação de bebidas.

Na Câmara dos Deputados, está em pauta o Projeto de Lei 2307/07, que propõe tornar crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas.

Enquanto as investigações continuam, as autoridades reforçam o alerta à população para evitar o consumo de bebidas sem procedência e denunciar irregularidades aos órgãos competentes.

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