Bombardeio com drones e mísseis deixou mortos, feridos e milhares sem aquecimento em Kiev
Às vésperas de uma reunião decisiva, a guerra voltou a falar mais alto que a diplomacia. Enquanto mísseis e drones russos atingiam Kiev por quase dez horas seguidas, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, embarcava para os Estados Unidos com uma mensagem direta: “Queremos paz, mas Putin é um homem de guerra”.
Zelensky se reúne neste domingo (28) com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Flórida, para discutir uma possível saída negociada para o conflito entre Ucrânia e Rússia. O encontro ocorre um dia após um dos maiores ataques russos do ano contra a capital ucraniana e sua região metropolitana, que deixou ao menos duas pessoas mortas e outras 44 feridas, segundo autoridades locais.
Em entrevista a jornalistas no sábado (27), Zelensky afirmou que a ofensiva reforça a avaliação de que o Kremlin não está comprometido com um acordo de paz. “Os ataques mostram que Putin realmente não quer a paz”, disse o presidente ucraniano. “Ele é um homem de guerra.”
Segundo a Força Aérea da Ucrânia, a Rússia lançou 519 drones e 40 mísseis durante a madrugada. Os bombardeios atingiram principalmente a infraestrutura civil e de energia. Mais de 40% dos prédios residenciais de Kiev ficaram sem aquecimento em meio a temperaturas abaixo de zero, de acordo com Oleksiy Kuleba, alto funcionário do governo ucraniano.
Sirenes de ataque aéreo soaram ao longo de todo o sábado, e incêndios se espalharam por diferentes bairros da capital, atingindo prédios residenciais e uma oficina mecânica. Um lar de idosos precisou ser evacuado às pressas, segundo o serviço de emergência de Kiev.
A caminho dos Estados Unidos, Zelensky afirmou que buscará de Trump garantias de segurança juridicamente vinculantes como parte de qualquer acordo de paz, além do reforço imediato das defesas aéreas do país. “Não temos sistemas de defesa aérea suficientes”, disse. “Precisamos de mais mísseis.”
Antes de seguir para a Flórida, o presidente ucraniano fez uma escala no Canadá, onde se reuniu com o primeiro-ministro Mark Carney. O governo canadense anunciou um novo pacote de ajuda econômica de 2,5 bilhões de dólares canadenses (cerca de R$ 10 bilhões), além de apoio para que o FMI amplie empréstimos à Ucrânia em até US$ 8,4 bilhões.
Trump disse ao site Politico esperar que a reunião com Zelensky “corra bem”, mas afirmou que o presidente ucraniano “não tem nada até que eu aprove”. O republicano também declarou que pretende conversar com o presidente russo, Vladimir Putin, “em breve”.
Do lado russo, Putin afirmou, segundo a agência estatal TASS, que Moscou seguirá com a chamada “operação militar especial” caso Kiev não aceite resolver o conflito “pacificamente”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, indicou que concessões territoriais por parte da Ucrânia poderiam “contribuir significativamente” para um acordo.
Zelensky, por sua vez, já sinalizou disposição para concessões em pontos sensíveis, como a desistência da adesão à Otan e a retirada de tropas de áreas específicas do leste do país, desde que haja reciprocidade por parte da Rússia e garantias de segurança aos ucranianos. Ele reforçou, no entanto, que qualquer mudança nas fronteiras nacionais precisa ser aprovada pela população em referendo, conforme determina a Constituição da Ucrânia.
Autoridades americanas e europeias afirmam que há expectativa de que a reunião deste domingo seja produtiva, embora reconheçam que o desfecho é imprevisível. “Não existe cenário de baixo risco com Trump”, resumiu um funcionário da Otan.
Enquanto negociações avançam nos bastidores, Zelensky resumiu o contraste entre discurso e realidade em uma publicação nas redes sociais: “Os representantes russos falam em paz, mas os mísseis e drones falam por eles”.



















