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sábado, 28 de junho, 2025
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Representatividade e respeito são enfatizados em Sessão Solene para homenagear comunidade LGBTQIA+

Representatividade, respeito e reconhecimento foram enfatizados durante Sessão Solene de outorga da Medalha Legislativa “Alanys Matheusa”, em homenagem às pessoas da comunidade LGBTQIA+, promovida pela Câmara Municipal de Campo Grande. Na noite desta sexta-feira, dia 27, vereadores e vereadoras da Capital homenagearam 60 pessoas. A Solenidade foi proposta pelo vereador Jean Ferreira e secretariada pelo vereador Beto Avelar.

A Sessão Solene foi instituída pela Resolução nº 1419/2025, de autoria do vereador Jean Ferreira, com objetivo de reconhecer e homenagear pessoas da comunidade LGBTQIA+ e aliadas à causa que tenham prestado relevantes serviços à comunidade, em especial pela contribuição para a promoção da igualdade e ao respeito à diversidade sexual e de gênero no município. A Solenidade ocorre na véspera do dia 28 de junho, quando é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBT.

O vereador Jean Ferreira agradeceu a todos os vereadores pela aprovação da Medalha, lembrando que conversou com cada um explicando a importância. “Temos Medalhas de várias profissões e segmentos, medalhas das mulheres, da juventude, dos povos originários, do povo negro e faltava da população LGBTQIA+”, recordou. Na solenidade, ele apresentou dados sobre a violência e as dificuldades enfrentadas pela população trans, lembrando que o Brasil ainda é o país que mais mata essa população e que muitas pessoas são expulsas de casa aos 13 anos. A falta de representatividade nas universidades e a bandeira da empregabilidade trans também foram abordadas.

“Muitas pessoas foram mortas pela homotransfobia. Foram muitas vidas perdidas”, lamentou o vereador Jean Ferreira, enfatizando que “o preconceito e a homotransfobia não cabem na democracia. Nossa Constituição Cidadã respeita as diferenças”, disse. Ele acrescentou ainda que as opiniões que ferem a existência e violentam a população LGBTQIA+ são discursos de ódio. O vereador pediu apoio e pretende lutar por pautas essenciais: a criação do Conselho Municipal LGBTQIA+ e a Casa de Acolhimento da População LGBTQIA, por meio de parcerias.

Direitos foram destacados durante a Solenidade. O Defensor Público Mateus Augusto Sutana ressaltou a importância de termos um Parlamento colorido e cada vez mais diverso. “Hoje, nessa Casa entendo que não são apenas medalhas entregues, essa Casa reconhece história, afirma existências e celebra o direito de ser”, disse, enfatizando que a solenidade é simbólica.  “Amar ainda é um ato de coragem, andar de mãos dadas pode ser perigoso e assumir nome e identidade pode custar tudo. Nossa missão é humana. Essa homenagem é promessa pública de que a democracia só será completa quando todas as pessoas forem tratadas com dignidade, ressaltou.

A juíza federal Raquel do Amaral lembrou dos direitos humanos da Constituição Federal, enfatizando o princípio da dignidade da pessoa humana, que abrange o direito à afetividade, à identidade e à diversidade. “A pauta do reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTQIA+ não é que ideológica, é uma questão de efetividade da Constituição. Quero parabenizar todos os vereadores por esse momento histórico”.

O subsecretário de Políticas LGBTQIA de Mato Grosso do Sul, Vagner Campos Silva, destacou a importância de “reconhecer que nossa vida, nosso corpo, nossa forma de amar vale a pena”, lembrando que a Câmara é um espaço de construção de políticas. Ele pediu sensibilidade política para alinhamento com a luta da comunidade, citando a importância de criação do Conselho Municipal da População LGBTQIA+, como instrumento de efetivação da política. “É importante dizer, que nos respeitem e criem instrumentos políticos para nos representar”, disse

Professor e orientador de Alanys Matheusa na faculdade, o secretário-executivo de Direitos Humanos, Bem Hur Ferreira, ressaltou como a aprovação dessa Medalha é significativa, enfatizando o trabalho que vem sendo feito pela atual Legislatura e a democracia como construção permanente. “A luta pela diversidade de gênero, pela orientação sexual, tem muitas vitórias. É preciso colocar a homofobia como crime. Essa noite é histórica! Essa noite vai mudar comportamento, corações e mentes”, disse.

Cris Stefanny, fundadora da Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul, recordou as várias travestis que já foram assinadas e também das que não tiveram oportunidade de representatividade, seguindo “escondidas do serviço público, da sociedade, do campo universitário e de tantos espaços, ainda que qualificadas”.

Alanys Matheusa — A Medalha leva o nome de Alanys Matheusa, formada em Direito pela UCDB em 2019, sendo a primeira advogada trans negra de Mato Grosso do Sul. Conquistou o diploma e OAB aos 22 anos, por meio de bolsa integral do Prouni, e sempre destacou a educação como instrumento de transformação social. Militante dos direitos humanos, expressou seu desejo de atuar na Defensoria ou no Poder Judiciário para representar pessoas em situação de vulnerabilidade. Faleceu aos 22 anos, em abril de 2020, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

Bastante emocionada, Andreza dos Santos, irmã da homenageada, agradeceu em nome da família. “Estamos emocionados e felizes por saber que o legado que Alanys deixou foi reconhecido, não vai morrer”, disse.

Um vídeo em homenagem à Alanys Matheusa foi exibido, mostrando fala dela na Comissão Externa de Violência Doméstica contra a Mulher da Câmara dos Deputados, em que ela cita suas conquistas como “primeira mulher trans negra advogada” e a importância de ocupar “lugares de mando, lugares que nunca puderam ocupar, que acreditam que nunca nos pertenceram”.

O vereador Jean Ferreira enfatizou ainda que a Medalha possa todo ano reconhecer a luta por direitos e ressignificar todo o sofrimento e violência. “Obrigada por cada um existir, resistir e lutar”.

Confira abaixo a lista de homenageados:

BETO AVELAR – ARUAN BARCELOS DE AVELAR, VALDIR JOÃO GOMES DE OLIVEIRA, ALESSANDRO LIMA VEIGA e FRANK ROSSATTE DA CUNHA BARBOSA
CARLÃO – ENNESLI GRANJEIRO GONÇALVES e LUIZ BARBOSA DE OLIVEIRA JÚNIOR
DR. VICTOR ROCHA – LEONARDO BASTOS FERREIRA e KARLA WALESKA DE MELO
EPAMINONDAS NETO (PAPY) – CARLOS EDUARDO LEITE RODRIGUES DOS SANTOS e CHLOE MILAN
FLÁVIO CABO ALMI – REBECA DE LIMA POMPILIO e GABRIEL LUIS PEREIRA NOLASCO
JUNIOR CORINGA – DIOGO DOS ANJOS GUEDES, MATHEUS LIMA DE LEMOS, TARSO FERNANDEZ AGUILLERA, MIKAELLA LIMA LOPES, GILDIVAN DE JESUS e EDVALDO BELISARIO DE MATOS
LANDMARK – ORION DIAS DA SILVA FILHO e JORDÃO AGUIAR DE SANTANA
LUIZA RIBEIRO – SUZZY WASHINGTON e CRISTIANE STEFANNY VIDAL VENCESLAU
MAICON NOGUEIRA – ENALDO SANTOS DE ANDRADE e ANANDA DANTAS SOCORRO
MARQUINHOS TRAD – BRUNA RIQUELME MARQUES, EMANUELLE FERNANDES DOS SANTOS e CÉSAR ANNUNCIAÇÃO
PROF. JUARI – CHRYSTIANNA BATISTA DA SILVA, HOSILENE DE ARAÚJO LUBACHESKI e VAGNER CAMPOS SILVA
PROF. RIVERTON – MARIA TEREZA DA COSTA
RONILÇO GUERREIRO – ANDRÉ LUIS SOUZA STELLA e PAMELLA YULE
JEAN FERREIRA – ABHNER JULIANO SANTOS BENEVIDES, BRUNO SANTOS DA COSTA, BEL SILVA, DHANYLO DENER FERREIRA, DHYEGO FERNANDES ALFONSO, DIEGO TOLEDO DE ALMEIDA, EMY MATEUS SANTOS,GUALOY KAIOWA GUARANI, GIULIA RITA BARBOSA SCORSIN, GUILHERME RODRIGUES PASSAMANI, HARI BUENO FRANÇA FREITAS, SUELI FERREIRA DIAS, JOÃO FERNANDO DOS SANTOS VILELA, KENSY PALACIO DOS SANTOS, MARCO AURÉLIO DE ALMEIDA SOARES, MARIANO DEPIERI SGORLA, MARIA FERNANDA ASSUNÇAO SILVA CABRAL, PABLO EVANGELISTA PACHECO, PLINIO LUIZ BRESSAN, RAFAEL DE MORAES LIPU, RAPHAEL DE LARA SOLES, RENAN CRUZ, RENATO FONSECA DE OLIVEIRA, ROGER PACHECO FERREIRA, SILVIO ROGÉRIO GROTTO DE OLIVEIRA, TIAGO DUQUE e THALLYSON PEREZ FERREIRA.

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