O Brasil assume nesta semana a presidência rotativa do Mercosul com a missão central de avançar nas negociações do aguardado acordo comercial com a União Europeia. A troca de comando será formalizada nesta quinta-feira (3), durante a 66ª Cúpula de Chefes de Estado do bloco, em Buenos Aires, na Argentina, e contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A presidência brasileira sucede a da Argentina e marca o início de um período que pode ser decisivo para a política externa do governo Lula. Em junho, durante visita à França, o presidente brasileiro declarou que pretende concluir o acordo com a União Europeia ainda em seu mandato. Ao lado do presidente francês Emmanuel Macron, Lula apelou: “Abram o coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul”.
Macron, porém, segue como um dos principais entraves à assinatura do tratado, ao alegar discrepâncias regulatórias entre os blocos. “Como vou explicar aos agricultores [franceses] que, no momento em que eu exijo que respeitem as normas, eu abro o mercado para quem não respeita essas normas?”, questionou o francês, cobrando cláusulas espelho e salvaguardas ambientais.
Diplomacia brasileira vê acordo como prioridade
Segundo a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, o acordo está pronto e passa apenas por ajustes técnicos e traduções para os 27 idiomas da União Europeia. “O presidente Lula tem trabalhado pessoalmente por esse desfecho, e seguimos confiantes de que ele poderá ser concluído”, afirmou.
Gisela destacou que o Mercosul ocupa um lugar estratégico na política externa brasileira e que a atuação conjunta dos países do bloco amplia a força de negociação internacional. “Juntos, temos mais peso. Sozinhos, as negociações com grandes blocos econômicos seriam muito mais frágeis”, avaliou.
Prioridades da presidência brasileira
Durante o período em que liderará o bloco, o Brasil pretende também dar atenção a outros temas relevantes da integração regional. Estão entre os principais objetivos:
- Fortalecimento da Tarifa Externa Comum (TEC);
- Incorporação dos setores automotivo e açucareiro ao regime comercial do bloco;
- Avanço na consolidação da união aduaneira;
- Atualização da Letec (Lista de Exceções à TEC);
- Cooperação em segurança pública;
- Fortalecimento de mecanismos de financiamento de infraestrutura e desenvolvimento regional.
Comércio em alta
O intercâmbio comercial entre os países do Mercosul segue aquecido. De janeiro a maio deste ano, a corrente de comércio alcançou US$ 17,5 bilhões. O Brasil teve superávit de US$ 3 bilhões, com exportações de US$ 10,2 bilhões e importações de US$ 7,2 bilhões.
Entre os principais produtos brasileiros exportados ao bloco estão veículos de passageiros, peças e acessórios automotivos, produtos da indústria de transformação e minério de ferro. As importações, por sua vez, são lideradas por veículos para transporte de mercadorias e passageiros, trigo, centeio e energia elétrica.
Mercosul em expansão
Criado em 1991, o Mercosul é composto atualmente por cinco membros plenos: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e, desde 2024, a Bolívia — que oficializou sua entrada neste ano. O bloco também conta com países associados e tem buscado maior protagonismo no cenário internacional, com foco em acordos comerciais e integração econômica.
Com o Brasil à frente, o Mercosul vive agora um novo ciclo, no qual diplomacia, comércio e cooperação regional se tornam ainda mais centrais. A expectativa é de que, até o fim do ano, as negociações com a União Europeia saiam do impasse e resultem no maior acordo já firmado pelos dois blocos.