As hepatites virais seguem como um grave problema de saúde pública no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2024, o país confirmou 826.292 casos da doença, que muitas vezes evolui silenciosamente e só é identificada em estágios avançados. Diante do cenário preocupante, a pasta lançou nesta segunda-feira (15) uma campanha nacional de incentivo ao diagnóstico precoce e à vacinação.
Os números revelam a predominância dos tipos B e C, considerados os mais perigosos por serem, na maioria das vezes, assintomáticos. Do total de casos registrados, 302.351 (36,6%) foram de hepatite B e 342.328 (41,5%) de hepatite C. Já a hepatite A correspondeu a 174.977 casos (21,2%), enquanto os tipos D e E somaram 4.722 (0,6%) e 1.914 (0,1%), respectivamente.
De origem diversa, as hepatites podem ser causadas por vírus, medicamentos, consumo excessivo de álcool, doenças autoimunes e até distúrbios genéticos. “Às vezes a doença é assintomática e o indivíduo só vai perceber em fase avançada, já com cirrose ou mesmo câncer de fígado. Por isso a testagem é tão importante”, alerta a hepatologista Daniela Carvalho, da clínica Gastrocentro.
A transmissão varia conforme o tipo do vírus. As hepatites A e E são geralmente contraídas por meio de água e alimentos contaminados, enquanto os tipos B, C e D se espalham pelo contato com sangue, relações sexuais desprotegidas e o uso compartilhado de objetos perfurocortantes, como alicates, seringas e lâminas de barbear.
O Estado de São Paulo acendeu um alerta ao registrar um aumento de 90% nos casos de hepatite A somente em 2024. A queda na cobertura vacinal é apontada como uma das causas. “É muito importante usar preservativos, não compartilhar objetos cortantes e manter a carteira de vacinação em dia. Além disso, as pessoas devem fazer testes regularmente”, reforça Daniela.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos devem ser testados ao menos uma vez na vida para hepatites B e C. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece testagem gratuita, além de vacinas para os tipos A e B.
O infectologista Henrique Lacerda, do Hospital Brasília, ressalta que ainda há desafios na prevenção e no tratamento. “Há desigualdades regionais, especialmente no Norte e em áreas rurais ou indígenas, além de barreiras sociais que dificultam o acesso de populações-chave. Investir em busca ativa e descentralização do cuidado é essencial”, afirma.
Ele também chama atenção para o estigma que ainda cerca a doença. “Muitos acreditam que hepatite só afeta usuários de drogas ou que o contato social transmite o vírus. Isso gera preconceito, desinformação e retarda o diagnóstico”, diz.
Com o slogan “Hepatite tem cura. O que não pode é descobrir tarde demais”, a campanha do Ministério da Saúde quer ampliar o acesso à informação, reforçar a importância da testagem e aumentar a cobertura vacinal como medidas fundamentais para conter o avanço das hepatites virais no país.