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segunda-feira, 21 de julho, 2025
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Vacina inovadora de mRNA estimula defesa do corpo e elimina tumores agressivos

Experimento com camundongos revelou que uma vacina genérica de mRNA conseguiu ativar o sistema imunológico para atacar diversos tipos de tumores, inclusive os resistentes a tratamentos convencionais

Uma vacina experimental de mRNA desenvolvida por cientistas da Universidade da Flórida (EUA) mostrou resultados promissores ao potencializar a imunoterapia e eliminar tumores em testes com camundongos, segundo estudo publicado na revista Nature Biomedical Engineering na última quinta-feira (18). A descoberta é considerada um avanço importante para a criação de uma vacina universal contra o câncer.

Diferentemente das vacinas tradicionais que miram tumores específicos, a vacina desenvolvida estimula o sistema imunológico de forma ampla, imitando uma resposta contra vírus. Esse estímulo desencadeou uma reação robusta das células de defesa, que passaram a reconhecer e atacar as células tumorais.

“A grande surpresa é que uma vacina de mRNA, mesmo sem ter como alvo um câncer específico, conseguiu gerar uma resposta imune com efeitos anticâncer bastante significativos”, afirmou o oncologista pediátrico Elias Sayour, líder do estudo e pesquisador da UF Health.

Testes em camundongos mostraram eliminação de tumores resistentes

Nos experimentos, a vacina foi combinada com medicamentos de imunoterapia conhecidos como inibidores de checkpoint imunológico, como o anti-PD-1, que liberam o “freio” das células T, parte essencial da resposta imune, permitindo que ataquem os tumores.

A combinação foi testada em camundongos com melanoma — um câncer de pele agressivo — e apresentou resultados promissores, inclusive em tumores resistentes a tratamentos convencionais. Em alguns casos, os tumores desapareceram completamente. Efeitos positivos também foram observados em modelos de câncer ósseo e cerebral.

O sucesso se deve, em parte, à capacidade da vacina de induzir a expressão da proteína PD-L1 nos tumores, tornando as células cancerígenas mais visíveis para o sistema imunológico, o que potencializa a eficácia da imunoterapia.

Tecnologia baseada nas vacinas contra a Covid-19

A vacina experimental usa a mesma tecnologia das vacinas de mRNA contra a Covid-19, como as da Pfizer e Moderna, utilizando moléculas de RNA mensageiro envoltas em nanopartículas lipídicas para instruir as células a gerar resposta imunológica.

Em 2023, o grupo de Sayour já havia desenvolvido uma vacina personalizada de mRNA para tratar glioblastoma, um tipo raro e agressivo de câncer cerebral, feita a partir das células tumorais de cada paciente. Agora, a inovação está em desenvolver uma vacina genérica, de uso mais amplo, que dispensa a personalização.

“Este estudo propõe um terceiro paradigma no desenvolvimento de vacinas contra o câncer. Em vez de adaptar a vacina a um tumor específico ou buscar alvos comuns entre pacientes, podemos usar uma resposta imune forte e inespecífica como arma principal”, explicou Duane Mitchell, coautor da pesquisa.

Próximos passos e esperança para tratamentos futuros

A expectativa é iniciar testes clínicos em humanos para verificar se os efeitos observados nos camundongos podem ser replicados. “Se isso for validado em humanos, abrirá caminho para uma vacina universal que prepara o sistema imunológico para reconhecer e destruir o câncer”, afirmou Mitchell.

Os pesquisadores seguem trabalhando para aprimorar a fórmula e viabilizar os testes em pacientes nos próximos anos. A pesquisa contou com financiamento de diversas agências americanas, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH).

Essa nova abordagem traz esperança especialmente para pacientes com tumores agressivos ou que não respondem bem aos tratamentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, ao potencialmente despertar a resposta imune natural do próprio organismo contra o câncer.

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