O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (21), em Santiago, no Chile, que ainda não há uma “guerra tarifária” entre Brasil e Estados Unidos, apesar da nova taxa de 50% anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre todos os produtos brasileiros importados pelos EUA. A medida, que entra em vigor no próximo dia 1º de agosto, tem gerado tensão entre os dois países.
“Não estamos numa guerra tarifária. A guerra vai começar na hora em que eu der a resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião”, declarou Lula durante um evento internacional em defesa da democracia, reforçando que o Brasil está pronto para reagir, mas prefere o diálogo.
A tarifa imposta por Trump, segundo o próprio republicano, seria uma resposta ao que ele considera ataques à liberdade de expressão nos EUA e à forma como o governo brasileiro tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe e outros crimes. Trump chegou a classificar o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas”.
Lula, por sua vez, evitou comentar o caso do ex-presidente brasileiro e enfatizou que o governo norte-americano deve respeitar a soberania das decisões judiciais de outros países. “Quem sou eu para tomar decisão diante da Suprema Corte? As condições que ele impôs não foram adequadas”, respondeu o petista.
Comitê interministerial para tratar o tema
Para enfrentar a situação, o presidente Lula determinou a criação de um comitê interministerial coordenado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O grupo reúne representantes do setor produtivo e empresários brasileiros, além do Itamaraty, para discutir alternativas e estratégias que protejam os interesses do país.
“Estou tranquilo. Tenho o Ministério das Relações Exteriores trabalhando nisso, o Alckmin está envolvido, e os empresários precisam entender que eles também devem conversar com seus parceiros nos EUA. Afinal, quem vai sentir os impactos dessa tarifa são eles próprios”, afirmou Lula.
Relação comercial e tom diplomático
Apesar da tensão, o presidente brasileiro ressaltou que a relação entre Brasil e Estados Unidos é sólida e deve ser mantida de forma respeitosa e equilibrada. “Nossa relação é muito forte, muito diplomática. Ninguém pode dizer que o Lula é radical. Sempre tive belíssimas relações com os presidentes americanos, inclusive republicanos”, disse.
“Se ele [Trump] quiser, nossa relação será a melhor possível. Mas dois chefes de Estado precisam conversar. Ele defende os interesses dos EUA, e eu defendo os do Brasil”, completou.
A medida de Trump já provoca preocupações no setor produtivo brasileiro. Produtos como suco de laranja, café, carne e frutas devem ser diretamente impactados, com repasse de custos para o consumidor americano e possível queda nas exportações brasileiras.
O desdobramento da situação agora depende do resultado das negociações e da disposição do governo norte-americano em rever a tarifa. Até lá, o governo brasileiro se prepara para responder com medidas equivalentes, caso necessário.