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domingo, 27 de julho, 2025
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Brasileiros reconhecem importância da educação financeira, mas admitem desconhecimento

Quatro em cada dez brasileiros estão endividados; 77% relatam impacto emocional

A maioria dos brasileiros admite que sabe pouco ou nada sobre educação financeira, embora reconheça a importância do tema para a vida pessoal e profissional. É o que aponta a 17ª edição da pesquisa Observatório Febraban, realizada pelo Instituto IPESPE entre os dias 12 e 26 de junho de 2025, com 3 mil pessoas de todas as regiões do país.

Segundo o levantamento, 55% dos brasileiros declaram ter pouco (40%) ou nenhum (15%) conhecimento sobre educação financeira. Apesar disso, 91% reconhecem que o tema é importante ou muito importante para a realização de projetos pessoais, e 76% afirmam dedicar muita ou alguma atenção ao controle das finanças pessoais.

O estudo revela um cenário de contradições: embora a maioria tenha consciência da importância do planejamento financeiro, quase 40% estão endividados. Dentre os que possuem dívidas, 23% acreditam que estarão ainda mais endividados até o fim do ano, e 77% relatam que o endividamento impacta negativamente sua saúde emocional ou qualidade de vida.

Entendimento limitado do tema

Para quase metade dos entrevistados (47%), o conceito de educação financeira se resume ao controle do orçamento doméstico. Apenas 23% associam o tema ao ato de investir dinheiro, 14% a evitar dívidas e 12% à formação de reservas para emergências. Questões como proteção contra imprevistos ou estratégias de formação de patrimônio aparecem com pouca frequência nas respostas.

“Educação financeira e endividamento são temas afins: a dificuldade de controlar gastos leva muitas pessoas a contraírem dívidas. Ao mesmo tempo, esse contexto aumenta o risco de inadimplência”, afirma o sociólogo Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.

Apostas online preocupam famílias

As chamadas Bets (apostas online) também surgem como elemento de preocupação. Para 81% dos brasileiros, essas práticas têm impacto negativo (50%) ou muito negativo (31%) no orçamento das famílias. Ao todo, 37% dos entrevistados relataram ter vivenciado ou conhecer alguém que passou por prejuízos decorrentes das apostas, sendo que 22% sofreram consequências sérias.

Golpes financeiros crescem e preocupam

Outro dado alarmante da pesquisa é que 39% dos brasileiros afirmam já ter sido vítimas de golpes ou tentativas envolvendo suas contas bancárias — o maior percentual desde o início da série histórica em 2021.

Entre os golpes mais comuns estão:

  • Clonagem ou troca de cartão (45%)
  • Golpe do WhatsApp (34%)
  • Central falsa (31%)
  • Pix falso (24%)
  • Uso indevido do CPF por SMS (13%)
  • Leilões ou lojas falsas (10%)

Apesar disso, 66% dizem ter recebido algum tipo de alerta ou material de conscientização de instituições financeiras sobre essas práticas.

Acesso ao crédito e comportamento financeiro

O acesso ao crédito é prática comum entre os brasileiros: 61% utilizam algum tipo de produto como cartão, empréstimo ou financiamento. O cartão de crédito é o mais popular, usado por 66% dos entrevistados. Financiamentos e crédito consignado aparecem bem atrás, com 19% e 16%, respectivamente.

A maioria também demonstra esforço para manter hábitos positivos: 61% afirmam poupar ou investir sempre que possível, e 54% têm o costume de conversar sobre finanças com filhos ou crianças da família.

Entretanto, apenas 46% se dizem totalmente seguros quanto à criação de um orçamento detalhado ou uso de aplicativos de controle financeiro. A confiança cai ainda mais quando se trata de formar uma reserva para grandes compras ou emergências.

Fontes de informação e desejo de aprender

Os canais digitais (sites e redes sociais) lideram como principal fonte de informação sobre finanças, citados por 40% dos entrevistados. Conversas com familiares (17%), instituições de ensino (15%) e mídia tradicional (12%) vêm na sequência. Pouco mais da metade (52%) demonstram interesse em participar de cursos e outras ações de educação financeira.

Entre as sugestões para melhorar o nível de educação financeira no país, 70% defendem a inclusão do tema como disciplina obrigatória nas escolas. Outros 47% sugerem a oferta de cursos gratuitos, enquanto 31% apontam a necessidade de políticas públicas para prevenir o superendividamento.

Papel dos bancos divide opiniões

A atuação das instituições financeiras na promoção da educação financeira divide a população: 36% consideram o papel dos bancos bom ou ótimo; 35%, regular; e 21%, ruim ou péssimo. Para 75% dos entrevistados, os bancos têm papel importante ou muito importante na promoção do tema, mas 54% relatam nunca ter recebido orientações claras ao contratar produtos ou serviços bancários.


A íntegra do levantamento pode ser acessada no portal da Febraban. A pesquisa reafirma o quanto a educação financeira é uma ferramenta fundamental — ainda subutilizada — para evitar o superendividamento, promover o bem-estar emocional e preparar os brasileiros para decisões mais conscientes no uso do dinheiro.

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