A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar nesta terça-feira (14) o chamado “núcleo 4” da trama golpista atribuída ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O grupo é composto por sete réus — cinco militares, um policial federal e o presidente do Instituto Voto Legal (IVL). Eles são acusados de organizar ações de desinformação e ataques virtuais às instituições democráticas em 2022.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo atuou em duas frentes principais: guerra de informação e contrainteligência ilegal e pressão por ruptura institucional e apoio clandestino.
Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, a denúncia foi fundamentada em provas produzidas pelos próprios acusados. “Não há como negar fatos praticados publicamente, planos apreendidos, diálogos documentados e bens públicos deteriorados”, afirmou.
Quem são os réus
- Ailton Gonçalves Moraes Barros – major da reserva do Exército
- Ângelo Martins Denicoli – major da reserva
- Giancarlo Gomes Rodrigues – subtenente
- Guilherme Marques de Almeida – tenente-coronel
- Reginaldo Vieira de Abreu – coronel
- Marcelo Araújo Bormevet – policial federal
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha – presidente do Instituto Voto Legal
O grupo responde pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio público tombado.
Desinformação e manipulação
De acordo com a PGR, integrantes da chamada “Abin Paralela” — entre eles o policial federal Marcelo Bormevet e o sargento Giancarlo Rodrigues — produziram e disseminaram narrativas falsas com o objetivo de minar a confiança no sistema eleitoral e nas instituições judiciais.
Essas ações faziam parte de uma estratégia para criar a percepção de que havia fraudes nas urnas eletrônicas, mesmo sem qualquer comprovação técnica.
O presidente do IVL, Carlos Rocha, teria contratado empresas de tecnologia para obter relatórios que confirmassem falsamente a tese de que Bolsonaro teria vencido as eleições se fossem consideradas apenas certas urnas.
Pressão e apoio militar
Outra parte do grupo teria atuado para pressionar autoridades militares e articular apoio ao golpe. O coronel Reginaldo Abreu, à época chefe de gabinete da Secretaria-Geral da Presidência, sugeriu que o então presidente se reunisse apenas com aliados “dispostos a atuar à margem da legalidade”.
Já o ex-major Ailton Barros teria ameaçado o comandante do Exército, general Freire Gomes, por manter sua fidelidade à Constituição, prometendo “oferecer sua cabeça aos leões” caso resistisse à ruptura institucional.
Próximos julgamentos
Até o momento, apenas o núcleo 1, formado por Jair Bolsonaro e mais sete réus, já foi condenado. O núcleo 3 será julgado nos dias 11, 12, 18 e 19 de novembro, enquanto o núcleo 5, que inclui o empresário Paulo Figueiredo, ainda não tem data definida — ele mora nos Estados Unidos e não apresentou defesa.
O julgamento do núcleo 4, que começa nesta terça-feira, é considerado um dos mais sensíveis politicamente dentro da série de processos que investigam a tentativa de golpe e a campanha de desinformação promovida por aliados do ex-presidente.