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domingo, 19 de outubro, 2025
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Fronteiras entre Bolívia e Mato Grosso do Sul amanhecem fechadas por causa das eleições

Votação define novo presidente boliviano em meio à crise econômica e ao fim da hegemonia do partido de Evo Morales

As fronteiras entre Mato Grosso do Sul e a Bolívia foram fechadas desde os primeiros minutos deste domingo (19) por determinação do governo boliviano, em razão do segundo turno das eleições presidenciais no país vizinho. A medida, considerada de praxe em dias de votação nacional, tem o objetivo de garantir a segurança e a tranquilidade do pleito, sobretudo nas cidades de Puerto Suárez e Puerto Quijarro, que fazem divisa com Corumbá (MS).

A restrição à travessia vale até o fim do processo eleitoral e, neste período, apenas pedestres poderão cruzar a fronteira, sob fiscalização reforçada por forças de segurança bolivianas e brasileiras.


Disputa define novo rumo político da Bolívia

A Bolívia vai às urnas neste domingo para escolher entre Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre (AL). É o primeiro segundo turno presidencial desde 2009, quando foi promulgada a nova Constituição boliviana.

O resultado pode representar o fim de quase duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), partido fundado por Evo Morales. No primeiro turno, realizado em 17 de agosto, o MAS sofreu uma derrota histórica, com menos de 4% dos votos.

Paz, de perfil centrista, propõe descentralização administrativa e estímulo ao setor privado sem abrir mão de programas sociais. Já Quiroga, ex-presidente entre 2001 e 2002, aposta em uma agenda liberal, com redução de gastos públicos e fortalecimento da iniciativa privada.


Corumbá é único ponto de votação em MS

Em Mato Grosso do Sul, o único local de votação autorizado é o Consulado da Bolívia em Corumbá, na Rua Sete de Setembro, entre a Rua Delamare e a Avenida General Rondon. Segundo Yoryina Guadalupe Dorado Ramos, representante do Órgano Electoral Plurinacional (OEP) no município, 289 bolivianos estão aptos a votar.

As urnas seguem o horário oficial da Bolívia, das 8h às 16h (9h às 17h no horário de Brasília).

Apesar do número reduzido de eleitores cadastrados, Corumbá abriga uma das maiores comunidades bolivianas de Mato Grosso do Sul, com população estimada entre 12 mil e 13 mil pessoas. No primeiro turno, Quiroga venceu na cidade com 70 votos, contra 19 de Paz.


Crise econômica e desafios do novo governo

A fragilidade econômica é o tema central da campanha. A Bolívia enfrenta queda nas exportações de gás natural, inflação alta, escassez de combustíveis e falta de dólares no mercado. O novo presidente, que tomará posse em 8 de novembro, herdará a pior crise desde o início dos governos do MAS, em 2005.

O resultado também pode influenciar o futuro da exploração de lítio, metal essencial para a produção de baterias. A Bolívia possui as maiores reservas conhecidas do mundo, mas enfrenta dificuldades para atrair investimentos. Projetos com empresas russas e chinesas estão paralisados, e o setor aguarda regras mais flexíveis após a eleição.


Voto no exterior e sistema de apuração

O voto no exterior não é obrigatório, mas é exigido para a realização de diversos serviços junto a órgãos públicos e instituições financeiras bolivianas. Para votar, o cidadão precisa apresentar carteira de identidade boliviana — mesmo vencida há até um ano — ou passaporte válido.

O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) implantou um novo sistema de apuração para dar mais transparência após as denúncias de fraude em 2019. As atas de votação serão fotografadas e transmitidas eletronicamente aos centros de apuração. Observadores da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos (OEA) acompanham o processo.

As urnas abriram às 8h (9h de Brasília) e devem fechar às 16h (17h de Brasília). O tribunal prevê divulgar 80% dos resultados preliminares ainda nesta noite, e o resultado oficial deve ser anunciado em até sete dias.


Novo ciclo político

O segundo turno encerra um ciclo histórico marcado pela longa hegemonia de Evo Morales e pela ascensão de duas candidaturas reformistas. A Bolívia entra, assim, em um novo capítulo político, em meio à instabilidade econômica e à expectativa de reaproximação diplomática com os Estados Unidos após quase duas décadas de alinhamento com Rússia, China e Irã.

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