Ministro Mauro Vieira diz que diálogo entre Brasil e Estados Unidos já começou; especialistas alertam que medidas precisam sair do papel rapidamente
O primeiro encontro formal entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump marcou o início de uma nova fase nas relações entre Brasil e Estados Unidos, segundo especialistas em política internacional. A reunião, realizada neste domingo (26), durante a 47ª Cúpula da ASEAN, em Kuala Lumpur, na Malásia, foi descrita por Lula como “franca e construtiva” e durou cerca de 50 minutos.
Apesar do tom positivo, analistas avaliam que a retomada da cooperação bilateral depende de resultados práticos e rápidos, principalmente nas áreas comercial e diplomática, abaladas desde as tarifas de 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros em agosto e das sanções a autoridades e ministros do STF.
“Janela de oportunidade” para reconstruir confiança
Para o coordenador do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fespsp, Alexandre Coelho, o encontro “não encerra a crise bilateral, mas inaugura uma janela de oportunidade para a reconstrução da confiança entre Brasil e Estados Unidos”.
Segundo ele, o gesto diplomático precisa ser traduzido em ações concretas até 2026, prazo que considera razoável para avaliar os frutos da reaproximação.
A pós-doutora em Direito Internacional Priscila Caneparo destaca que o encontro recoloca o Brasil como ator relevante na América Latina, justamente num momento em que os EUA buscam retomar influência na região.
“Os Estados Unidos querem recuperar o espaço que perderam, especialmente durante o governo Biden. E o diálogo com o Brasil mostra uma tentativa de evitar uma nova escalada da guerra comercial”, afirmou.
Para Caneparo, o gesto político também reforça o protagonismo de Trump nas negociações e sinaliza que Lula busca defender a soberania brasileira diante das pressões externas.
Negociações devem começar imediatamente
De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Lula e Trump concordaram em buscar soluções para as tarifas impostas aos produtos brasileiros e planejam visitas oficiais recíprocas.
Vieira informou ainda que Trump determinou o início imediato de um processo de negociação bilateral, com uma reunião técnica entre representantes dos dois países ainda neste domingo. Lula também se colocou à disposição para atuar como interlocutor junto a Trump e ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Segundo o chanceler, uma “porta importante foi aberta”, mas ainda não há medidas concretas sobre as tarifas.
Expectativas e incertezas
Caneparo ressalta que o Brasil apresentou suas demandas, mas os Estados Unidos ainda não ofereceram contrapartidas. Ela alerta que, além das tarifas, o debate incluirá questões sensíveis, como a exploração de terras raras, a regulamentação das big techs e possíveis novas tarifas sobre café e carne bovina.
Os chamados minerais estratégicos, usados na produção de tecnologia de ponta — como celulares, turbinas e equipamentos militares —, são alvo de disputa entre EUA e China. Nesse contexto, o Brasil pode se tornar parceiro-chave dos norte-americanos.
Coelho pondera, no entanto, que as incertezas sobre o cronograma das negociações permanecem. “A suspensão das tarifas dependerá de avaliações políticas internas nos Estados Unidos, enquanto o governo brasileiro precisará mostrar resultados concretos para os setores produtivos nacionais”, afirmou.
Caneparo reforça que a revisão tarifária é um processo técnico e demorado, especialmente nos setores de aço e alumínio, que dificilmente terão recuo imediato.
“Provavelmente haverá uma suspensão gradual das tarifas, conforme o avanço das negociações. Nos próximos meses, será importante acompanhar o cronograma de revisão tarifária e o andamento dos grupos de trabalho bilaterais sobre sanções e comércio”, completou Coelho.











