Divergências entre países e críticas da ONU à organização elevam tensão na conferência
A primeira semana da COP30, realizada em Belém, chega ao fim com avanços tímidos e importantes impasses ainda sem solução. Os debates sobre financiamento, metas de emissões e compromissos internacionais progrediram pouco, alimentando o temor de que a conferência enfrente dificuldades para apresentar resultados concretos até o encerramento.
As divergências entre países desenvolvidos e nações em desenvolvimento seguem no centro dos bloqueios. Enquanto os países ricos pressionam por compromissos mais contundentes e maior regularidade na divulgação de dados sobre emissões, o Sul Global insiste que só poderá elevar suas ambições se houver garantia dos recursos financeiros prometidos — recursos que, segundo diversas delegações, continuam distantes do que foi pactuado em conferências anteriores.
Nos bastidores, diplomatas relatam que o clima das negociações endureceu ao longo da semana. Delegações de países em desenvolvimento afirmam que as nações ricas não têm cumprido suas promessas de financiamento e alertam que não aceitarão que o peso da crise climática recaia sobre os países mais vulneráveis.
Brasil tenta mediar tensões
Como país-sede, o Brasil tem buscado desempenhar um papel de mediador, tentando aproximar os dois blocos e destravar a pauta. A presidência da COP anunciou que intensificará conversas bilaterais neste sábado (14), quando uma nova plenária foi convocada para atualizar o andamento das tratativas.
Críticas da ONU à organização
A semana também foi marcada por questionamentos à organização do evento. Na quinta-feira (13), a ONU enviou uma carta ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e ao governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), apontando falhas na infraestrutura e segurança da conferência.
A movimentação é considerada incomum, já que, embora a ONU administre a “Blue Zone” — área oficial das negociações —, raramente formaliza críticas durante a realização de cúpulas climáticas. O estopim foi a invasão de manifestantes na noite de terça-feira (11), que romperam o controle de acesso e interromperam parte da programação, expondo fragilidades na segurança. A ONU pediu reforço imediato no policiamento e revisão dos protocolos.
Além disso, delegações relatam problemas operacionais desde o início do evento, incluindo falhas na refrigeração dos pavilhões, falta de água em banheiros e dificuldades logísticas consideradas atípicas para uma conferência desse porte.
Resposta do governo brasileiro
Após a carta, a Casa Civil divulgou nota afirmando que não participou das decisões relacionadas à atuação das forças de segurança durante os protestos de 11 de novembro. Segundo o comunicado, a segurança interna da Blue Zone é responsabilidade da UNDSS, departamento de segurança da ONU, que define os protocolos de proteção do local.
A nota também ressalta que todas as solicitações da ONU estão sendo atendidas e que, no dia 12, o governo federal, o governo do Pará e a UNDSS realizaram uma reavaliação das estratégias de policiamento, ampliando os perímetros de segurança Laranja e Vermelha da COP30.
Com a segunda semana de conferência pela frente, negociadores esperam que o ritmo das discussões mude, evitando que os impasses atuais comprometam os resultados da mais importante conferência climática do ano.

