A exatamente 100 dias do início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), Belém (PA) vive uma corrida contra o tempo para garantir infraestrutura adequada aos quase 50 mil participantes esperados entre 10 e 21 de novembro. Esta será a primeira vez que o Brasil sedia o evento e, também, a primeira edição realizada no coração da Amazônia — o que transforma a logística local em um desafio sem precedentes.
Apesar dos esforços, a principal preocupação no momento gira em torno da hospedagem. Preços considerados abusivos por delegações internacionais têm provocado desconforto diplomático e até pedidos formais para que o evento seja transferido para outra cidade. Representantes de 25 países já manifestaram essa solicitação, alegando que os valores cobrados por hotéis e imóveis temporários chegam a ser até 15 vezes superiores ao normal.
Em plataformas de locação, foram encontrados anúncios com cifras inéditas. Um imóvel com dois quartos e capacidade para 16 pessoas, por exemplo, foi oferecido por R$ 2,2 milhões pelo pacote de 11 noites — o equivalente a mais de R$ 200 mil por diária. Em média, os pacotes variam de R$ 20 mil a R$ 500 mil, acendendo o alerta entre delegações do Sul Global, representantes da sociedade civil, povos indígenas e jovens ativistas, que correm o risco de serem excluídos do evento devido à falta de opções acessíveis.
Governo descarta mudança e reforça ações emergenciais
Em nota oficial, a Secretaria Extraordinária da COP30 reafirmou que “não há plano B”. Segundo o secretário André Corrêa do Lago, todas as decisões centrais, incluindo o encontro de chefes de Estado, ocorrerão em Belém. Uma nova reunião virtual entre o governo federal, autoridades do Pará e a Convenção do Clima da ONU está marcada para o dia 11 de agosto. Na pauta, questões como transporte, alimentação, segurança e, principalmente, hospedagem.
Para atender às delegações oficiais, o plano atual prevê a reserva de até 15 quartos individuais com tarifas entre US$ 100 e US$ 200 para países classificados como LDCs (Países Menos Desenvolvidos) e PEIDs (Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento). Os demais países terão acesso a até 10 quartos, com preços entre US$ 220 e US$ 600. A União também negocia com redes hoteleiras e plataformas digitais para ampliar essas ofertas.
Medidas alternativas tentam aliviar pressão
Como parte das soluções emergenciais, o governo federal já bloqueou mais de 30 mil leitos em hotéis, pousadas e imóveis temporários. Também foram contratados três navios de cruzeiro, que funcionarão como hotéis flutuantes no porto de Belém, com capacidade para aproximadamente 6 mil hóspedes. As tarifas, de US$ 100 a US$ 220 por noite (cerca de R$ 550 a R$ 1.200), são consideradas altas, mas dentro de um patamar mais razoável.
Para complementar a estrutura, o governo do Pará avalia ainda o uso de escolas públicas, motéis e embarcações de turismo fluvial como alojamentos temporários. Atualmente, a cidade dispõe de cerca de 36 mil leitos formais, número considerado insuficiente para a demanda da conferência.
Desde 2023, autoridades firmaram memorando com a plataforma Booking.com e promoveram workshops para incentivar práticas tarifárias justas. Uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi apresentada em abril, mas a adesão pelos hotéis continua sendo voluntária.
Infraestrutura em ritmo acelerado
A preparação de Belém para sediar a COP30 envolve ainda um pacote de obras estimado em mais de R$ 4,5 bilhões. As intervenções incluem reformas no aeroporto, melhorias na drenagem urbana, mobilidade e revitalização de espaços públicos. A promessa do governo é que tudo estará pronto até setembro.
Com o tempo apertado e a pressão internacional aumentando, os próximos 100 dias serão decisivos para que o Brasil consiga mostrar ao mundo que está preparado para conduzir um dos debates mais importantes da agenda global — sem deixar ninguém de fora.