A oito dias da entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o governo do Brasil intensifica esforços para barrar a medida. A taxação, anunciada pelo presidente Donald Trump em julho, afeta diretamente setores estratégicos da economia nacional, como o agronegócio, a indústria de transformação e a aviação.
Além do Brasil, países como Indonésia, Japão, Canadá e membros da União Europeia também foram atingidos pelas novas tarifas. No entanto, ao contrário do Brasil, muitos desses países conseguiram costurar acordos com os EUA que suavizam os impactos econômicos, ainda que em troca de maior dependência comercial.
Postura combativa preocupa setor empresarial
O governo brasileiro tem adotado uma postura combativa, classificando a tarifa como protecionista e prejudicial. Apesar de manter canais de diálogo abertos, autoridades brasileiras não descartam a aplicação da Lei da Reciprocidade — regulamentada recentemente — o que permitiria retaliações comerciais. A medida, no entanto, desagrada o setor empresarial, que teme retaliações cruzadas e prejuízos bilaterais.
Na rede social Truth Social, o presidente Trump voltou a defender as tarifas nesta quarta-feira (23) e condicionou qualquer redução à abertura de mercado pelos países atingidos. “Se não, tarifas muito mais altas!”, escreveu o republicano.
Especialistas veem riscos em evitar negociações
Para Gustavo Menon, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, a falta de negociação direta com os EUA expõe o Brasil a riscos significativos. “As tarifas podem tornar os produtos brasileiros menos competitivos, aprofundando o déficit comercial com os norte-americanos. Além disso, a recusa em negociar pode fragilizar a relação diplomática construída ao longo de mais de 200 anos”, afirma.
Rodrigo Medina, chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, aponta que os acordos feitos por outros países garantem vantagens competitivas e mostram a importância do diálogo bilateral. “Não há canal de diálogo aberto de forma efetiva com os EUA. É uma via de mão dupla”, destaca.
Pressão por avanços concretos
O especialista em negócios internacionais Augusto Fernandes critica a ausência de avanços por parte do governo brasileiro. “Enquanto Indonésia, Japão e Europa negociaram isenções e investimentos bilionários, o Brasil segue imobilizado. Se essa tarifa for mantida, é uma bomba atômica na economia”, alerta.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou em reunião com diplomatas que há esforço contínuo para diálogo com o setor privado e autoridades americanas. Segundo relatos, tentativas de contato com o governo dos EUA foram feitas desde abril, mas sem retorno efetivo.
Acordos estratégicos com outros países
Nesta semana, a Casa Branca anunciou um acordo com a Indonésia que elimina 99% das barreiras tarifárias para produtos norte-americanos. Em contrapartida, os EUA reduziram a tarifa sobre produtos indonésios para 19%. Já o Japão aceitou investir US$ 500 bilhões nos EUA em troca de uma tarifa reduzida de 15%.
Enquanto outros países avançam com concessões bilaterais, o Brasil segue tentando evitar o isolamento em uma disputa comercial que pode impactar diretamente sua economia e reputação internacional.