Os desafios para colocar em prática o Plano para Erradicação e Substituição da Leucena foram debatidos tecnicamente na Câmara Municipal de Campo Grande, durante Audiência Pública na manhã desta quarta-feira, dia 4. A Leucena é considerada uma planta invasora, que ameaça a biodiversidade, e a proposta é promover o manejo substituindo-a por espécies nativas.
O debate foi proposto pelo vereador Veterinário Francisco, vice-presidente da Comissão Permanente de Meio Ambiente. Ele é autor da lei que dispõe sobre Plano de Erradicação e Substituição da planta exótica Leucena. A proposta, assinada também pela vereadora Luiza Ribeiro e pelo vereador Marquinhos Trad, já foi aprovada na Câmara e sancionada pela prefeita Adriane Lopes, conforme publicado nesta quarta-feira em Diário Oficial.
O vereador Veterinário Francisco lembrou que a leucena é considerada “uma das 100 piores pragas do mundo, introduzida sem planejamento na nossa cidade e considerada uma ameaça à biodiversidade local”. Ele ressaltou a importância de consciência coletiva de preservação e a previsão de multa para quem descumprir as regras. “Somos uma cidade que cresce, mas precisa de responsabilidade. Temos que proteger a vegetação nativa, nossas nascentes, nossa fauna e, por consequência, o futuro das próximas gerações”, ressaltou.
O objetivo é ter planejamento e sequência para essa substituição. “Essa Audiência é um marco para lançamento desse Plano, com essa união das forças que vem da experiência, da responsabilidade técnica e do incentivo do poder público”, afirmou Leonardo Miranda, da Associação Sul-Mato-Grossense dos Engenheiros Florestais.
Acadêmicos e professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) acompanharam a Audiência. Zilda Mara Reis, coordenadora do curso de Biologia da UEMS, lembrou da importância da substituição das árvores, dado o impacto nos locais onde há hoje as sombras das leucenas.
Já o professor Denilson Oliveira Guilherme, da UCDB, acrescentou sobre a importância do plano discutido de forma técnica e científica. “Com seis meses, a leucena chega a quase dois metros de altura”, disse. Desta forma, além de tampar as espécies nativas, concorre com nutrientes no solo. Para evitar a reinfestação, a professora da UFMS Letícia Couto Garcia ressaltou a necessidade de plantar espécies nativas em alta densidade.
A necessidade de educação ambiental, informando a população sobre o corte das leucenas e o fato de serem plantas invasoras, também foi ressaltado no debate. O biólogo José Milton Longo, do Conselho de Biologia, lembrou que moradores acabaram se manifestando contrários a retirada das árvores na região do Córrego Cabaça, justamente por desconhecerem os dados técnicos sobre a espécie. Por isso, ressaltou o papel da comunicação nesta informação e também da substituição por espécies que vão promover esse sombreamento.
Parcerias – Fundador da Ecoplantar, Eduardo Bergoli, ressaltou o trabalho feito na Região do Segredo, com 45 mil árvores plantadas e falou das parcerias para garantir a substituição da leucena por outras espécies. “Não podemos deixar só para a prefeitura ou só para a universidade ou para o setor privado. Essa lei vem para revolucionar. É o começo para viabilizar essas parcerias.
O diretor-presidente da Águas Guariroba, Gabriel Buim, informou que a concessionária está a disposição para doação de mudas nativas produzidas em viveiro, além da elaboração de inventário sobre as leucenas nos leitos de córregos.
Projeto – A proposta, aprovada pela Câmara, prevê o mapeamento das áreas onde a espécie invasora está presente e o planejamento estratégico para sua substituição; a restauração dos ecossistemas nativos do Município; a minimização dos impactos sobre a biodiversidade local, incluindo a proteção de espécies da fauna e flora; a sensibilização e o engajamento da comunidade para a preservação ambiental; a promoção da educação ambiental voltada para a conservação das espécies nativas e os riscos das espécies exóticas invasoras.
O projeto proíbe, em Campo Grande, o plantio, comércio, transporte e a produção da planta exótica Leucena, prevendo multa para quem descumprir a norma.
Conforme justificativa, consta a explicação que a Leucena é reconhecida por sua capacidade de crescimento rápido e alta taxa de reprodução, característica que lhe conferem um potencial invasor significativo. Sua presença em ecossistemas nativos pode levar à competição direta com espécies locais, resultando na redução da diversidade florística e na alteração da estrutura das comunidades vegetais. Estudos indicam que a leucena pode causar a diminuição da riqueza de espécies nativas em até 70% nas áreas onde se estabelece.
Com a sanção da lei, deve ser elaborado um decreto regulamentando os procedimentos para implementar esse plano, conforme a secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável, Vera Cristina Galvão Bach. “Com esse controle da leucena, vamos dar passo bem grande para beneficiar o ecossistema da nossa cidade”, disse.
A diretora-adjunta da Planurb, Mariana Massud, ressaltou que será feita a discussão do tema, como instrumento efetivo, buscando recursos para concretizá-lo em grande escala. Ela acrescentou ainda que está em debate na Agência Municipal de Planejamento Urbano a revisão do Plano de Arborização Urbana do Município.
A vereadora Luiza Ribeiro recordou de projeto semelhante apresentado na Câmara, que previa ainda um plano para erradicação da mamona, outra planta considerada invasora, com ameaças à biodiversidade. “Estamos conversando, ouvindo contribuições para alterar essa proposta e termos o Legislativo contribuindo ainda mais com essa questão”.