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sábado, 31 de maio, 2025
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Audiência na Câmara busca providências para corredores de ônibus na Capital

A Câmara Municipal de Campo Grande promoveu, na manhã desta sexta-feira, dia 30, uma ampla discussão sobre os corredores de transporte coletivo. De um lado, há as reclamações dos comerciantes onde os corredores e estações de embarque e desembarque nas vias foram instalados, além dos acidentes de trânsito que tem ocorrido. De outro, a necessidade dos passageiros do transporte coletivo por mais celeridade e as premissas do plano de mobilidade urbana. O objetivo é promover adequações para melhorar os locais que receberam esses investimentos, além da conclusão de obras paralisadas.

Há corredores de transporte instalados nas ruas Brilhante e Rui Barbosa, além de obras em andamento na Bandeirantes e Avenida Gunter Hans. Há previsão ainda de projetos semelhantes na Rua Bahia, Avenida Coronel Antonino e Avenida Calógeras. As obras poderão incluir ainda outras vias, com objetivo de conectar os terminais e dar mais agilidade aos ônibus. Os investimentos são executados com recursos federais, já carimbados para estes investimentos.

Proponente da Audiência, o vereador André Salineiro trouxe a indagação e reflexão: Há possibilidade de readequação destes corredores? Ele lembrou que a mobilidade urbana na cidade é importante e almejada, porém não pode ocorrer a qualquer custo. “Sabemos que comércios foram fechados, empregos perdidos e vidas ceifadas, com vários acidentes graves devido aos corredores de ônibus. Devemos repensar como remanejar esses corredores”, disse. Ele defende que a mobilidade urbana deve envolver “onda verde nos semáforos, sensores de fluxo, recapeamento das vias e pontos de ônibus decentes, que realmente acomodem as pessoas”.

Também foi feita cobrança sobre a conclusão das obras já em andamento, a exemplo da Gunter Hans e da Bandeirantes. O vereador Leinha, que secretariou a Audiência, afirmou sobre a necessidade de avaliar o que precisa ser feito para melhorar essas obras e questionou sobre o recurso para conclui-las. “A população precisa ter efetividade”, disse.

Debate – Comerciantes e lideranças comunitárias abordaram os transtornos com as mudanças. “Hoje a gente vê um impacto de mortandade das empresas nestes locais”, afirmou Paulo de Matos Pinheiro, empresário e diretor da Associação Comercial de Campo Grande, ao referir-se aos locais onde estão instalados os pontos de ônibus nas avenidas. Ele recordou a insatisfação e os problemas enfrentados pelos comerciantes e moradores das ruas Brilhante, Bandeirantes e Rui Barbosa, que receberam os corredores e pontos nas vias. “O Poder Público virou as costas para os moradores e comerciantes”, disse. Paulo Pinheiro reforçou a preocupação com o impacto de obras semelhantes na Rua Bahia e Avenida Coronel Antonino.

O secretário de Governo e Relações Institucionais, Youssif Domingos, fez críticas aos terminais do lado esquerdo, ocupando uma faixa de vias. “Esses terminais nas ruas são uma aberração, isso não existe”, afirmou. Ele afirmou que a prefeita Adriane Lopes está atenta às reivindicações em relação aos corredores de transporte e buscando soluções justas.

O vereador Wilson Lands avalia que “só há preconceito em relação aos corredores porque a população não foi ouvida, os empresários não foram ouvidos”, disse, ao criticar o que classificou como desrespeito. Ele afirmou que a crítica é não ter se colocado no lugar do empresário, dos motoristas e mensurar o dano que isso causou nessa cidade.

Integrante da CPI do Transporte Coletivo, o vereador Maicon Nogueira falou de uma descoberta que considerou decepcionante: não foi elaborada a Matriz OD (Origem-Destino), item contratual com objetivo de assegurar um estudo amplo, como instrumento de planejamento da gestão eficiente do transporte, dimensionar a frota de forma adequada, ajustar horários e frequência, além integração. “Temos que identificar o responsável por abrir mão de informação importante para planejamento urbano da cidade”.

O vereador Ronilço Guerreiro defendeu a importância dos corredores de transporte coletivo, mas com planejamento estratégico e a participação das pessoas nos investimentos. Ele pontuou ainda sobre a luta pelo desenvolvimento econômico, artístico e cultural da região central da cidade, para ajudar de forma geral o comércio. “Precisamos de incentivos para tornar a região central mais atrativa e valorizada”, disse.

Em defesa dos corredores de ônibus, Erik Martins, da Página Ligados no Transporte, lembrou que o transporte é feito pela empresa responsável pela concessão e pela prefeitura, com a infraestrutura que oferece. “A prioridade do espaço público deve ser para o transporte coletivo, que está levando mais gente e ocupando menos espaço do que o transporte individual”. Ele lembrou que dentro dos ônibus estão os passageiros, muitas vezes em pé e que já aguardaram um bom tempo nos pontos e precisam ser lembrados nos investimentos.

O vereador Marquinhos Trad garantiu que houve discussão entre empresários e comerciantes sobre os corredores. “O corredor nunca foi colocado de maneira impensada, da noite para o dia. Dizer que ninguém foi ouvido é desconhecimento”, afirmou. Ele lembrou que os recursos envolviam ainda obras de drenagem, recapeamento e outras melhorias nas vias. Defendeu ainda os corredores e os passageiros que utilizam os ônibus. “É muito fácil ligar ar condicionado e se locomover, mas o transporte coletivo, que leva 60, 80 pessoas, sempre foi deixado de lado”, disse.

Já Paulo da Silva, da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), defende a necessidade dos corredores e os investimentos já realizados. “Nenhuma decisão foi tomada sem passar pelo planejamento da cidade”, garantiu, referindo-se ao plano de mobilidade.  “A minha defesa é pelos corredores, a posição das estações pode ser discutida, mas não tem como mudar porque tem recurso federal. Mudar não é fácil, as coisas têm preço, o dinheiro investido é seu, de todos, não podemos descartar e jogar fora”, disse. Ele lembrou que os corredores atendem 154 mil pessoas que usam o transporte coletivo.

Também da Agetran, Andréa Figueiredo Silva alertou que o plano de mobilidade urbana tem a seguinte prioridade: pedestres, ciclistas, transporte público e no fim os veículos particulares. “Campo Grande só recebeu recurso porque fez lição de casa, tem planos de mobilidade em dia”, disse, falando das diretrizes para liberação de recursos. Ela falou ainda que várias questões foram consideradas no estudo. “Precisamos repensar os valores, não focar no individual em detrimento do coletivo”, alertou, sobre a prioridade dos ônibus. Andréa exemplificou que na Rui Barbosa os usuários já ganharam 20% de redução no tempo com os corredores.

Representando o Consórcio Guaicurus, João Resende, recordou que Campo Grande já buscava espelhar-se em ações de mobilidade de Curitiba (PR) desde 1977. Ele defende que as obras em Campo Grande fizeram parte de amplo estudo da prefeitura, mas afirmou que a falta de execução refletiu no não-cumprimento do contrato com a prefeitura. “Dos 58 km de corredores de transporte que faria, a prefeitura só fez 6”, disse, defendendo a importância destes corredores para melhorar o transporte. Ele lembrou ainda que terminais não foram executados.

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