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quinta-feira, 19 de junho, 2025
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Campo Grande tem 11 feminicídios em 2025 e entra em ranking nacional

Campo Grande amarga a 6ª posição no ranking das cidades com maior número de feminicídios registrados em 2024. A capital sul-mato-grossense contabilizou 11 mortes de mulheres apenas neste ano, conforme dados divulgados nesta quarta-feira (11) pelo Mapa da Segurança Pública 2025, elaborado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Campo Grande tem 11 feminicídios em 2025 e entra em ranking nacional

O relatório também aponta que Mato Grosso do Sul ocupa lugar preocupante no cenário nacional: é o segundo estado com maior taxa de feminicídios por 100 mil habitantes, atrás apenas de Mato Grosso. A estatística reforça o alerta sobre a gravidade do problema na região Centro-Oeste, que lidera o ranking proporcional com 1,87 feminicídios por 100 mil mulheres.

No panorama nacional, o Brasil registrou 1.549 feminicídios em 2024 — um aumento de 0,69% em relação a 2023. Embora o número de casos tenha crescido, a taxa permaneceu estável em 1,34 mortes por 100 mil mulheres. Desde 2020, os casos vêm aumentando gradativamente: de 1.355 há cinco anos para 1.459 em 2025.

Situação em Mato Grosso do Sul

No estado, já são 15 casos confirmados de feminicídio em 2025 — sendo 4 apenas em Campo Grande. O mês de maio foi o mais letal, com seis vítimas, incluindo um bebê de apenas 10 meses de idade.

Para a promotora de Justiça Lívia Carla Bariani, que atua há 14 anos em casos de feminicídio, o maior desafio ainda está na conscientização. “Falta informação. A mulher não consegue identificar que vive um relacionamento abusivo, e a sociedade, muitas vezes, julga em vez de apoiar”, pontua.

Bariani ressalta que a violência começa de forma sutil, com humilhações e controle psicológico, antes de chegar à agressão física. “O feminicídio não acontece do nada. Há sinais: o isolamento da mulher, o controle sobre a vida dela. São alertas que não podem ser ignorados.”

Barreiras emocionais e legais

A psicanalista Ana Lisboa, especialista em saúde mental feminina, explica que muitas mulheres permanecem em relações abusivas não apenas por questões externas, como dependência financeira, mas também por fatores emocionais profundos. “Padrões de abandono e abuso aprendidos na infância influenciam essas escolhas inconscientes. O agressor alterna manipulação e violência, deixando a vítima emocionalmente confusa.”

A especialista defende que romper o ciclo da violência exige mais do que apoio jurídico — é necessário reconstruir a autoestima da mulher.

No campo legal, o Brasil sancionou no ano passado uma nova lei que transformou o feminicídio em crime autônomo, com penas que variam de 20 a 40 anos. Ainda assim, a promotora do MPDFT, Thais Tarquínio, aponta que as penas para agressões anteriores ao crime extremo ainda são brandas. “A maioria dos réus não é responsabilizada antes do feminicídio ocorrer.”

Já a advogada Jéssica Marques observa que, embora existam instrumentos como a Lei Maria da Penha, a sobrecarga do sistema dificulta um atendimento eficaz. “A demanda é alta, e muitas medidas protetivas são genéricas. Sem análise cuidadosa, essas ações não impedem a escalada da violência.”

Caminhos para a mudança

A promotora Lívia Bariani destaca que, apesar do cenário alarmante, o trabalho de enfrentamento deve continuar firme. “Ainda vamos ver muitos casos, infelizmente, mas não podemos parar. Cada mulher salva vale o esforço coletivo de toda a sociedade.”

Para buscar apoio, mulheres em situação de violência podem solicitar medidas protetivas mesmo sem registrar boletim de ocorrência. O acolhimento jurídico, psicológico e assistencial é essencial para quebrar o ciclo da violência e reduzir os casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul e no país.

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