O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (17) manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. A decisão, amplamente esperada pelo mercado, reforça o cenário de estabilidade prolongada. Para especialistas, a taxa deve permanecer neste nível até o fim de 2025, com possibilidade de cortes apenas em 2026.
Segundo César Bergo, professor de mercado financeiro da UnB (Universidade de Brasília), a sinalização do BC indica continuidade da política restritiva. “A expectativa é de manutenção da Selic nessa faixa de 15% até o final do ano. Acreditamos que não haverá mudança”, afirmou.
Ele lembra que, apesar de fatores favoráveis — como a queda do dólar e a perspectiva de juros menores nos Estados Unidos —, o Banco Central tem reforçado seu compromisso em segurar as expectativas de inflação. “Já deu início a um ciclo de manutenção, mas é um patamar bastante elevado, que sufoca a atividade econômica”, disse. Entre os impactos, Bergo cita crédito mais caro, dificuldades para empresas e aumento da inadimplência.
Na visão do economista, a primeira redução só deve ocorrer em 2026, ano eleitoral.
Inflação como fator-chave
Para Benito Salomão, professor do Instituto de Economia da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), o comportamento da inflação será determinante para o início de cortes. “Embora haja um processo inequívoco de convergência da inflação, a queda da taxa de juros vai estar condicionada ao seu comportamento nos próximos meses”, disse.
Ele destaca ainda o câmbio como aliado no controle de preços: “O real se valorizou fortemente neste ano, de mais de R$ 6 para R$ 5,31, barateando importações e reduzindo pressões sobre preços internos”.
Cenário de incertezas
Já Hugo Garbe, economista e professor da ESPM, avalia que pode haver espaço para cortes antes de 2026 — possivelmente no fim de 2025 —, mas isso dependerá tanto do cenário doméstico quanto internacional.
“No plano interno, a evolução da inflação e da política fiscal será decisiva. Uma piora nas contas públicas pressiona os juros de longo prazo e limita a ação do Banco Central. No externo, se o Fed (Banco Central dos EUA) iniciar um ciclo de cortes, o Brasil terá mais espaço para reduzir a Selic sem comprometer o câmbio”, analisou.
Impactos no crescimento
Mesmo com eventuais cortes em 2025, os efeitos sobre a economia só devem ser sentidos anos depois. “A política monetária opera com defasagem. Se a Selic começar a cair no primeiro trimestre do ano que vem, os impactos reais sobre emprego e crescimento só aparecerão em 2027”, explicou Salomão.
De acordo com Garbe, esse intervalo — conhecido como lag — é estimado entre 6 e 9 meses. “Ou seja, mesmo quando a Selic cair, o efeito sobre consumo e investimentos virá apenas no ano seguinte”, concluiu.