A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros acendeu um sinal de alerta entre especialistas em comércio internacional e diplomacia. A medida, considerada uma retaliação direta ao atual alinhamento ideológico da política externa brasileira, intensifica a tensão entre os dois países e coloca em risco setores estratégicos da economia nacional.
Segundo o advogado Marcelo Godke, especialista em direito internacional empresarial, a diplomacia brasileira perdeu direção. “Nosso posicionamento internacional virou uma colcha de retalhos. O país se alinha por afinidade ideológica, sem avaliar os impactos. No fim, estamos do lado errado da história, isolados de parceiros que valorizam liberdade e crescimento sustentável”, avalia.
Para Godke, a taxação é resultado de anos de distanciamento com as grandes economias ocidentais, especialmente os EUA. “Agora, o Brasil colhe os frutos de uma postura que desprezou o diálogo e a construção de pontes comerciais com países-chave no cenário global.”
Reação diplomática e desgaste acumulado
A crítica à condução da política externa é compartilhada por outros especialistas. O tributarista Luís Garcia, sócio do Tax Group, avalia que a postura hostil do governo brasileiro desde o início da atual gestão contribuiu para o desgaste com Washington. “A sinalização contrária aos Estados Unidos começou bem antes da eleição de Trump. A insistência em discursos confrontativos, especialmente nas cúpulas dos Brics, tornou inevitável a reação do governo norte-americano”, afirma.
Em Brasília, a vinculação pública feita por Trump entre o tarifaço e o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro foi classificada como “inaceitável”. Porém, o gesto expôs também uma fragilidade crescente da diplomacia brasileira, segundo o advogado Marcelo Censoni. “Perdemos espaço e influência. Precisamos reconstruir pontes institucionais com maturidade e pragmatismo. Reagir com agressividade só agravará os danos”, destaca.
Impactos econômicos e o risco de retração
Na prática, os efeitos das novas tarifas já começam a ser sentidos. Empresários brasileiros estão em alerta, especialmente os que atuam nos setores do agronegócio e da indústria de base exportadora — os mais impactados pela medida.
O consultor Ranieri Genari, da Evoinc, avalia que o Brasil enfrenta uma “tempestade perfeita”: “Sem alternativa jurídica imediata para contestar a decisão, o governo precisa agir com inteligência estratégica. O risco é entrar num ciclo de retração, perda de competitividade e redução das exportações”, alerta.
Caminhos para conter os danos
Apesar das críticas à condução política, há consenso entre os especialistas sobre o que precisa ser feito: retomar a diplomacia ativa, reposicionar o Brasil no cenário internacional e buscar consensos multilaterais.
“Enfrentar a maior economia do planeta com retórica ideológica não serve ao interesse nacional. É hora de recuperar o canal de diálogo e proteger o que realmente importa: o desenvolvimento do país”, conclui Marcelo Godke.
A crise com os Estados Unidos pode ser o alerta definitivo para uma revisão urgente da política externa brasileira — e para a necessidade de uma atuação mais pragmática, voltada à reconstrução de alianças e à proteção dos interesses econômicos nacionais.