PL pressiona por unidade, mas centrão e lideranças conservadoras defendem nome alternativo e decisão mais ampla
A movimentação em torno do nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como possível candidato da direita à Presidência em 2026 está longe de ser consenso. Embora o parlamentar tenha recebido o aval do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, preso desde o fim de novembro, sua pré-candidatura expôs divergências entre partidos conservadores, lideranças regionais e projetos concorrentes dentro do próprio campo político.
Mesmo com parte do PL empenhada em fortalecer Flávio como opção competitiva, dirigentes do centrão reforçam que a escolha não será definida por um único grupo. Eles defendem uma decisão “ampla”, construída de forma coletiva e guiada por pesquisas e viabilidade eleitoral.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), destacou que, apesar de sua proximidade pessoal com o filho do ex-presidente, a escolha não pode ser tratada como assunto exclusivo do PL. “Política não se faz só com amizade. Precisa ouvir aliados e avaliar cenários”, afirmou na segunda-feira (8).
O PL, no entanto, insiste em alinhar o partido em torno de Flávio. O líder da sigla na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que ainda ocorrerá uma reunião formal com o senador para tratar da pré-candidatura. Ele também citou que Jair Bolsonaro se sentiu “abandonado pelo centro” e classificou o lançamento do nome de Flávio como um “teste de lealdade”.
Disputas internas e alternativas em debate
Enquanto o PL tenta consolidar a indicação, lideranças de outros partidos da direita buscam alternativas. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) segue defendendo o nome de Michelle Bolsonaro como potencial candidata, reforçando a divisão interna sobre o rumo eleitoral do grupo.
A pressão aumentou após Flávio Bolsonaro afirmar, em entrevista à RECORD, que o debate sobre sua candidatura poderia envolver negociações relacionadas a uma eventual anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A declaração teve repercussão negativa nas redes sociais e gerou desconforto mesmo entre apoiadores, que criticaram a vinculação do projeto à situação jurídica do ex-presidente.
Reações do outro lado
No governo federal, a ordem tem sido evitar manifestações oficiais sobre as articulações da direita. Nos bastidores, integrantes da base petista avaliam que a movimentação conservadora está focada em “salvar a pele” de Jair Bolsonaro, sem apresentar propostas concretas para o país.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), chamou Flávio Bolsonaro de “piada” ao comentar a fala sobre anistia. “Enquanto o mundo lembra líderes que tinham sonhos, o senador admite que tem preço”, disse o deputado.
Cientista político vê fragmentação crescente
Para o cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), a direita vive um momento de reconfiguração, acelerado pela prisão do ex-presidente. Segundo ele, sem a figura centralizadora de Jair Bolsonaro, abre-se espaço para múltiplas pré-candidaturas e disputas internas.
“A direita opera hoje em duas frentes: uma base militante fiel ao bolsonarismo raiz e outra corrente que busca uma alternativa com maior chance real de vitória”, analisa. “Quanto mais o impasse persistir, maior será o espaço para uma nova liderança liberal-conservadora capaz de dialogar com o eleitor antipetista sem carregar o peso da radicalização.”
O cenário segue em transformação, com reuniões pendentes, pressões internas e movimentações estratégicas que devem se intensificar ao longo de 2026.




















