Suspensão de exportações pode aumentar oferta e reduzir preços do frango, mas queda na produção de aves e ovos pode gerar alta
O registro de um caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul e a consequente suspensão das importações brasileiras por alguns países podem provocar impactos nos preços do produto no mercado interno, segundo economistas ouvidos pela reportagem.
Com a interrupção nas vendas externas, a tendência é de aumento da oferta de carne de frango no mercado interno, o que deve pressionar os preços para baixo no curto prazo. Por outro lado, a redução da criação de aves como forma de conter a propagação do vírus pode afetar a produção de ovos e, consequentemente, encarecer o produto.
Entre os países que já confirmaram a suspensão da compra de frango do Brasil está a China, principal destino das exportações brasileiras de carne de aves. Argentina e União Europeia também vão deixar de importar a proteína por tempo indeterminado.
“Isso faz com que, de uma hora para a outra, você deixe de colocar no mercado internacional a carne de frango. Isso, de alguma forma, vai aumentar a oferta interna, e os preços devem ficar mais baixos internamente, porque haverá maior oferta”, comentou o economista e professor de mercado financeiro da UnB (Universidade de Brasília) César Bergo.
Autoridades do Governo do Rio Grande do Sul informaram que quase 17 mil aves criadas na granja onde a doença foi constatada morreram por gripe aviária. As que sobreviveram foram sacrificadas. Na opinião de Bergo, é fundamental a adoção de medidas sanitárias para evitar a proliferação do vírus e impedir que mais animais sejam afetados.
“Quando você acaba, por razões da gripe aviária, tendo que dizimar os animais, tem essa implicação na produção de ovos. Nós observamos isso nos Estados Unidos, que teve a gripe aviária lá, e teve esse reflexo. Então, também pode haver uma consequência para os ovos. Reduzindo a produção de ovos, se aumenta o preço”, analisou.
“No geral, esperamos que as autoridades sanitárias tomem as decisões corretas o quanto antes, fazendo com que a localização dessa gripe aviária seja feita e que não contamine outras granjas, sobretudo de Santa Catarina e Paraná, que são os maiores produtores brasileiros”, completou Bergo.
O economista Benito Salomão acrescentou que “ainda é preciso esperar e ver se esse é um caso isolado, ou vai haver novos focos”. “Se for um problema maior, isso vai impactar a produção e, consequentemente, a oferta. Os preços domésticos podem subir ao invés de cair”, comentou.
“Se, por outro lado, o caso for só esse mesmo, e a crise não escalar de dimensão, as barreiras que esses países estão impondo devem cair, e a demanda externa normalizar”, concluiu.
Hábitos de consumo e capacidade de armazenamento
Apesar do registro da doença, o Ministério da Agricultura afirma que não há risco de transmissão de gripe aviária para humanos pelo consumo de frango ou ovo. De todo modo, o professor de agronegócio e sistemas agroindustriais da UnB Armando Fornazier chamou atenção para a possibilidade de mudanças nos hábitos de consumo da população.
Segundo ele, mesmo com maior oferta de carne no mercado interno, o desfecho dependerá da capacidade do mercado de absorver o volume adicional.
“A questão é se o consumidor vai mudar os hábitos ou não, se vai ficar receoso. É difícil prever o consumo. Mas, pela lógica econômica, com menos mercado externo, esse produto vai sobrar no mercado nacional. Com mais oferta de produtos, a tendência seria de queda nos preços. No entanto, essa transmissão da economia — ou seja, a transmissão dos preços — varia de produto para produto”, analisou.
Além disso, Fornazier pontuou que uma eventual queda no preço do frango também vai depender da capacidade de armazenamento dos frigoríficos e distribuidores.
“Se as empresas tiverem boa capacidade de armazenar carne resfriada, ela pode ficar meses congelada, e não haveria problema em evitar colocar tanto produto no mercado de imediato”, destacou.