Um estudo recente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, revelou que o Brasil possui 1.601 oportunidades comerciais com os países do Brics — bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O levantamento ganha relevância diante do aumento das tarifas comerciais promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impactam inclusive parceiros do grupo.
Em um cenário global marcado por tensões comerciais, o momento é visto como estratégico para o aprofundamento das relações econômicas entre o Brasil e os demais países do Brics. Desde o sábado (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na China — principal destino das exportações brasileiras — com o objetivo de ampliar parcerias em setores como proteína animal, café, alimentos industrializados e bioenergia.
Antes da visita à China, Lula esteve na Rússia, onde afirmou que a relação bilateral ainda é “deficitária” do ponto de vista comercial, mas com grande potencial. “Temos a chance de, nesse momento histórico, fazer com que a nossa relação comercial possa crescer muito”, disse o presidente.
Bloco é prioridade na pauta de exportações brasileiras
De acordo com a ApexBrasil, as principais oportunidades comerciais estão na África do Sul (582), China (400), Índia (388) e Rússia (231). Atualmente, a pauta exportadora brasileira para os países do Brics é concentrada em commodities — como soja, petróleo, minério de ferro e carne bovina — que correspondem a 77% das vendas.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 102,5 bilhões para o bloco e importou US$ 82,1 bilhões, obtendo superávit de US$ 20,4 bilhões. A China lidera com 28% de participação, seguida pela Índia (1,56%).
Principais produtos exportados pelo Brasil para o Brics (2024):
- Soja – US$ 32 bilhões
- Óleos brutos de petróleo – US$ 21 bilhões
- Minério de ferro – US$ 19 bilhões
- Carne bovina – US$ 6 bilhões
- Celulose – US$ 4,6 bilhões
- Açúcares e melaços – US$ 3,2 bilhões
- Algodão em bruto – US$ 1,9 bilhão
- Carne de aves – US$ 1,6 bilhão
- Ferro-gusa e ferro-ligas – US$ 1,3 bilhão
- Óleos vegetais – US$ 0,9 bilhão
Potencial ainda maior em diversas áreas
O estudo destaca setores com grande potencial de expansão nas exportações brasileiras para os parceiros do Brics:
- Produtos alimentícios e animais vivos: US$ 52 bilhões em importações totais, com o Brasil já respondendo por 26% desse mercado.
- Matérias-primas não comestíveis (exceto combustíveis): participação brasileira de 21% em um mercado de US$ 354 bilhões.
- Combustíveis e lubrificantes: US$ 560 bilhões em importações, com 3,8% de participação brasileira.
Além disso, há espaço para crescer em áreas como máquinas e equipamentos, moda, saúde e construção civil.
Trump e o tarifaço
As oportunidades no Brics surgem num momento em que os Estados Unidos, sob a gestão de Donald Trump, intensificam políticas protecionistas, com tarifas de até 145% sobre produtos chineses. A medida agravou a guerra comercial entre os dois países.
Durante encontro com o presidente russo Vladimir Putin, na sexta-feira (9), Lula criticou a postura unilateral dos EUA. “A taxação de comércio com todos os países do mundo, de forma unilateral, joga por terra a grande ideia do livre comércio e o respeito à soberania dos países”, afirmou.
Concorrência global
Apesar da vantagem brasileira em determinados segmentos, os principais concorrentes nas exportações para o Brics são Estados Unidos e Taiwan, especialmente nas vendas de soja. Já nas importações brasileiras, os EUA e a Alemanha competem com os produtos vindos do bloco, principalmente em itens como óleos combustíveis e fertilizantes.
Os dados revelam que, em um cenário de reconfiguração das alianças econômicas globais, o Brasil tem vantagens competitivas relevantes e amplo espaço para diversificar e ampliar seu comércio exterior com os países do Brics.