A média da taxa básica de juros (Selic) no Brasil está entre as mais elevadas durante os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme levantamento baseado em dados do Banco Central. Os três mandatos do petista figuram entre os cinco períodos com maiores taxas desde o início do século XXI, evidenciando um padrão de juros altos nas gestões do atual chefe do Executivo.
No atual mandato de Lula, iniciado em 2023, a Selic média está em 12,5%, um dos maiores patamares já registrados. O ápice, no entanto, ocorreu durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), com uma taxa média de 18,7%, superando ligeiramente os 18,6% observados nos dois últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 2001 e 2002.
Na sequência, os juros médios do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2014 e agosto de 2016, ficaram em 13,8%. Em ordem decrescente, aparecem: o atual governo Lula (12,5%), Lula 2 (2007-2010) com 11,1%, o governo Michel Temer (PMDB) com 10,9%, Dilma 1 (2011-2014) com 9,9% e, por fim, a gestão de Jair Bolsonaro (PL), com a menor média do período: 6,6%.
O levantamento foi realizado com base nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), considerando os ciclos presidenciais de 2001 até 2025.
Fatores por trás da Selic elevada
Segundo o economista Alexandre Espírito Santo, da Way Investimentos, dois fatores sustentam a atual política de juros altos no Brasil: o aumento do juro neutro global e as decisões econômicas expansionistas adotadas internamente.
O juro neutro é a taxa que equilibra a inflação sem frear o crescimento. Para o especialista, essa taxa subiu de forma estrutural após a pandemia da Covid-19, passando de um patamar de 3% para algo entre 5% e 6%, exigindo, assim, um prêmio de risco maior por parte dos países — especialmente no caso do Brasil, que soma a esse cenário global um ambiente de incerteza fiscal.
“O país traz incertezas com políticas expansionistas e de gastos elevados. Com isso, o Banco Central tem que manter os juros altos e sem perspectiva de queda”, afirmou Espírito Santo.
Entre as medidas econômicas consideradas expansionistas estão a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a ampliação de crédito a setores específicos e o aumento de investimentos em programas sociais. Embora essas ações estimulem a economia, também contribuem para a pressão inflacionária.
Incerteza fiscal e juros sem perspectiva de queda
O economista Jason Vieira, da MoneYou, destaca que a principal preocupação do mercado é a sinalização de aumento de gastos e a consequente elevação da dívida pública. Para ele, esse movimento gera desancoragem das expectativas de inflação e se reflete diretamente na curva de juros.
“O governo tenta, em tese, culpar o mercado e não a ele próprio, mas isso se reflete nas projeções futuras de juros. O maior problema da Selic agora é o risco fiscal”, analisou.
Espírito Santo conclui que a única forma de reduzir a Selic de maneira sustentável seria com reformas estruturais e corte de gastos públicos, criando espaço para uma política monetária mais branda. “Se não cuidar do fiscal, continuaremos nesse ciclo de crescimento baixo seguido de inflação elevada”, alertou.