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sexta-feira, 23 de maio, 2025
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Governo recua e revoga parte do aumento do IOF após reação negativa do mercado

Menos de seis horas após anunciar um pacote de medidas que elevavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Ministério da Fazenda voltou atrás em parte das mudanças na noite desta quinta-feira (22). O recuo ocorreu após forte repercussão negativa no mercado financeiro, críticas de economistas e pressão política.

As alterações tinham como objetivo aumentar a arrecadação e reduzir distorções entre diferentes modalidades de investimento e crédito. No entanto, uma das medidas mais controversas — a que aplicava IOF de 3,5% sobre remessas de fundos nacionais para investimentos no exterior — foi revogada ainda na noite de quinta.

“Após diálogo e avaliação técnica, será restaurada a redação que previa alíquota zero de IOF sobre aplicação de investimentos de fundos nacionais no exterior”, informou o Ministério da Fazenda, em nota publicada na rede social X.

O que muda com as medidas mantidas

Apesar do recuo parcial, outras alterações foram mantidas. Veja os principais pontos:

  • Seguros de vida: IOF de 5% sobre aportes mensais acima de R$ 50 mil em planos com cobertura por sobrevivência.
  • Cooperativas de crédito: Operações de crédito acima de R$ 100 milhões por ano passam a ser tributadas como empresas comuns.
  • Crédito para empresas: Houve ajuste nas alíquotas, incluindo para empresas do Simples Nacional, embora os detalhes específicos ainda não tenham sido divulgados.
  • Câmbio e moeda em espécie: IOF fixado em 3,5%. No entanto, remessas para investimentos de pessoas físicas seguem com a alíquota antiga, de 1,1%.
  • Saída de recursos não especificada: Operações financeiras não detalhadas com envio de recursos ao exterior terão IOF de 3,5%.

Mantidos com isenção

Algumas operações continuam com alíquota zero de IOF, incluindo:

  • Importações e exportações;
  • Remessas de dividendos e juros para investidores estrangeiros;
  • Cartões de crédito de turistas estrangeiros e de entidades públicas;
  • Transporte aéreo internacional;
  • Financiamentos externos (exceto de curto prazo);
  • Doações internacionais ambientais;
  • Operações interbancárias.

Objetivo e impacto fiscal

Segundo a Fazenda, o pacote buscava alinhar a política fiscal com a monetária, além de eliminar brechas que permitem evasão tributária. A expectativa inicial era de uma arrecadação adicional de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. Com o recuo parcial, a nova estimativa ainda não foi divulgada.

O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que a maior parte das medidas atinge empresas e contribuintes de alta renda, sem impacto sobre pessoas físicas. “Cheque especial, crédito habitacional, Fies e financiamentos pessoais continuam desonerados”, reforçou.

Críticas de economistas e do Congresso

A reação do mercado foi imediata. José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, classificou a mudança como “uma lambança muito grande”. Marcos Mendes, pesquisador do Insper, alertou para o risco jurídico: “Pode ser judicializado, e aí não resolve grandes coisas pelo risco de não concretizar”.

No Congresso, o líder da oposição, deputado Luciano Zucco (PL-RS), apresentou um Projeto de Decreto Legislativo para sustar o aumento das alíquotas. “O governo escolheu, mais uma vez, punir quem empreende, trabalha e gera empregos”, criticou.

Governo fala em equilíbrio

Diante das críticas, a Fazenda afirmou que o recuo parcial demonstra uma postura de “ajuste com equilíbrio, ouvindo o país e corrigindo rumos sempre que necessário”.

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