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quarta-feira, 23 de julho, 2025
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GPS no Brasil: saiba o que pode ocorrer se os EUA decidirem bloquear o sinal

Segundo especialistas, os Estados Unidos têm o poder de controlar e bloquear o sinal, mas é pouco provável que isso aconteça

Em meio à escalada de tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, rumores sobre novas sanções do governo norte-americano, comandado por Donald Trump, tomaram as redes sociais. Entre as especulações mais alarmantes está a possibilidade de um bloqueio do sinal do GPS no território brasileiro — sistema global de posicionamento via satélite operado pelos EUA.

A ideia de que o GPS poderia se tornar uma “arma” geopolítica para pressionar o Brasil rapidamente ganhou destaque. O temor aumentou após Trump impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e revogar os vistos de autoridades do país, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, em retaliação a medidas do governo brasileiro.

Apesar da comoção, especialistas consultados afirmam que um eventual bloqueio é improvável, embora tecnicamente possível. “Seria extremamente difícil desligar o GPS apenas para o Brasil sem afetar países vizinhos ou comprometer o sistema como um todo”, explica Eduardo Rocha, engenheiro de sistemas e especialista em comunicação. “Os satélites trabalham em rede, com sobreposição de sinais. Um corte localizado teria efeito cascata.”

O GPS é uma das tecnologias mais utilizadas no mundo, sendo essencial para setores estratégicos como logística, aviação, agricultura de precisão, transporte urbano, bancos e telecomunicações. Qualquer interrupção poderia causar sérios prejuízos econômicos e operacionais.

“O uso em tratores autônomos, aplicativos de entrega, sistemas bancários e até serviços de emergência depende do GPS”, alerta o especialista em inovação Eduardo Freire. “Um bloqueio comprometeria a segurança pública, os serviços essenciais e colocaria a economia em risco.”

Dependência e soberania digital

Diante da instabilidade nas relações com Washington, o governo brasileiro decidiu agir. No início do mês, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) criou um grupo de trabalho para estudar a viabilidade de um sistema nacional de geolocalização por satélite. A iniciativa reúne representantes das Forças Armadas, ministérios, agências federais e da indústria aeroespacial.

A meta é reduzir a dependência de estruturas tecnológicas controladas por potências estrangeiras. Para Freire, a criação de um sistema próprio não é apenas estratégica, mas essencial para a soberania nacional. “O GPS não é apenas uma questão técnica. É geopolítica. É segurança. É independência.”

Outros países já investiram em alternativas: a China tem o BeiDou; a Rússia opera o GLONASS; e a União Europeia desenvolveu o Galileo. O Brasil, até o momento, depende integralmente do GPS norte-americano.

“Temos capacidade técnica e científica para construir ou integrar uma rede regional”, afirma Freire. “Falta decisão política, financiamento e um plano de longo prazo.”

Crise em alta

A tensão diplomática entre os países aumentou desde que Trump anunciou, em julho, a imposição de tarifas sobre exportações brasileiras. A medida, segundo ele, seria uma resposta às ações do governo brasileiro contra “empresas americanas” e ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente sob medidas restritivas no Brasil.

Com a proximidade da data de vigência das novas tarifas, marcada para 1º de agosto, o temor em torno de retaliações mais severas — como o bloqueio do GPS — voltou a ganhar força. O governo brasileiro tenta manter o diálogo com Washington, mas, nos bastidores, estuda aplicar a recém-regulamentada Lei da Reciprocidade.

Enquanto isso, o debate sobre a soberania tecnológica brasileira ganha força — não apenas como medida de proteção nacional, mas como uma necessidade urgente para um país cada vez mais dependente da geolocalização.

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