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Hospital São Julião comemora 75 anos com história de humanização

05/08/2016 06h30

Hospital São Julião comemora 75 anos com história de humanização

Comemorações incluem a inauguração de um espaço expositivo com obras de João Zumelho e Lino Villachá

Correio do Estado

Nos limites de Campo Grande, o Hospital São Julião se tornou sinônimo de acolhida e atendimento humanizado. Hoje completam-se 75 anos desde que foi criado. Nessas décadas, construiu-se uma longa história, marcada por importantes personagens. Atualmente, o centro de saúde é referência estadual no tratamento de hanseníase e no setor de oftalmologia, sendo o único a realizar transplantes de córnea.

Contudo, a história se iniciou de maneira diferente. Quando criado, em 1941, servia como asilo-colônia aos pacientes com hanseníase. Até 1986, não se conhecia nenhum tratamento eficaz contra a doença. Por essa razão, os portadores eram isolados da sociedade. “Do meu ponto de vista, existem dois São Julião. A primeira fase é marcada pelos voluntários, que enfrentaram o preconceito e trabalharam pelos enfermos”, explica Lenilde Ramos, autora de “Menina sem Nome”, um relato autobiográfico sobre sua experiência de voluntariado no São Julião.

“A segunda fase é essa de um hospital aberto, uma fase de profissionalismo que fez com que o centro se tornasse uma referência no cuidado das pessoas”, explica. Como se sabe, a história é um fluxo contínuo, mas é impossível extirpar o passado do presente. Por isso, o São Julião de hoje deve muito ao que foi no passado. De acordo com o diretor administrativo do hospital, Amilton Alvarenga, um desses traços herdados é o cuidado atencioso e humanizado dado aos pacientes.

Um projeto-piloto do Sistema Único de Saúde (SUS) ressalta essa característica do hospital. Os Cuidados Continuados Integrados (CCI), que têm foco na reabilitação de pacientes, é realizado há três anos no Hospital São Julião. Alvarenga explica que o programa cria uma rede multidisciplinar que atende pacientes que sofreram traumas debilitantes, como um acidente vascular cerebral, amputações, acidentes graves, etc.

“O paciente é levado para um hospital emergencial e, depois que se livra do risco de morte, ele é internado aqui e recebe atenção de fisioterapeutas, enfermeiros, farmacêuticos e psicólogos”, detalha o diretor. Além do paciente, a família também é atendida e recebe informações sobre como oferecer os cuidados necessários. Essa é apenas uma das características que tornam o São Julião uma referência.

Há outros elementos que fazem com que o hospital se destaque. Trata-se do único espaço em Campo Grande que realiza tratamentos odontológicos em pessoas com deficiências mentais. “É um atendimento que conta com anestesista e se assemelha a uma cirurgia”, conta Alvarenga. Segundo ele, foram realizados mais de 150 mil atendimentos em 2016.

COMEMORAÇÃO

Para comemorar os 75 anos de existência do Hospital São Julião, será realizado um churrasco para os colaboradores do local, os benfeitores e os pacientes – incluindo aqueles que já deixaram o hospital. A programação se inicia às 8h e segue até as 16h, com atrações como corrida, caminhada, danças e mágicas.

A confraternização é realizada para pessoas como Ramão Gimenez, trabalhador autônomo, que passou um ano e meio internado no hospital. Isso em 1980. “Todos os anos eu volto para participar do churrasco. É um momento de lembrar a importância que o hospital teve para mim”, comenta. Ele conta que, durante a internação, pode atuar voluntariamente como atendente de enfermagem.

A comemoração terá algumas surpresas. Entre elas, a inauguração da Mostra Zumelho e Villachá, que contará com as obras de dois personagens memoráveis da história do São Julião. O artesão João Zumelho viveu no local e produziu esculturas em madeira. São imagens ligadas ao imaginário religioso, como anjos e santos. Já Lino Villachá foi poeta, autor de cinco livros, e passou a vida no hospital, onde seu corpo está sepultado.

“Conheci muitas dessas histórias nos anos em que trabalhei como médica voluntária aqui. Sempre achei importante ter um espaço para a memória do hospital”, aponta Beatriz Dobashi, diretora-presidente da instituição. Ela revela que também foi produzido um pequeno compêndio, o qual conta a trajetória de 30 personagens importantes. “São relatos que me foram feitos pela Irmã Silvia sobre pessoas que estiveram aqui”, explica. O livro é intitulado “Histórias do São Julião”.

O Hospital São Julião se tornou um espaço de referência - Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

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